Bem Vindo a Fair Leaves
06 Feb 2017Em geral, quando pensamos em RPGs, pensamos em guerreiros com espadas e armaduras, bárbaros brutos com machados gigantes, magos com roupas exóticas e gestual estranho soltando bolas de fogo, vampiros dramáticos divididos entre seu lado bestial e seu lado humano, samurais urbanos com metralhadoras ligadas a seus cérebros por meio de implantes cibernéticos, ou super-caras detonando super-vilões (e destruindo metade da cidade que deveriam proteger no processo… Mas quem liga?)
Mas uma coisa que normalmente as pessoas não associam, ao menos não normalmente, ao RPG são cenários onde a violência não deveria sequer ser pensada. Cenários onde muitas vezes uma palavra gentil será mais efetiva que uma espada matadora de dragões, e onde um gesto ríspido pode provocar mais dor que ser picotado por uma rajada de balas.
No Brasil não vemos tantos desses cenários, que lá fora são conhecidos como Light-Hearted e Family-Friendly, onde muitas vezes o que conta é como seu personagem interage com os demais sem envolver a agressividade ou a violência. Cenários onde, caso você chegue no ponto de precisar da violência direta, você já falhou.
Lá fora, porém, existe um rico ambiente para esse tipo de cenários, com regras simples, visando introduzir crianças ao hobby em um ambiente onde você pode explorar a imaginação sem as típicas preocupações relativas ao excesso de violência que normalmente envolve o RPG. Little Wizards, Golden Sky Stories, Magissa, Do - Pilgrims of the Flying Temple e seu sucessor Fate of the Flying Temple, Young Centurions, Heroes of Oz, entre outros, focam-se nesse tipo de público e de cenário.
Ao mesmo tempo, muitas pessoas lembram dos desenhos dos anos 80 por coisas como Pole Position, Centurions, Silverhawks, Galaxy Rangers, He-Man e She-Ra, Jace e os Piratas do Espaço, Thundercats, Thundarr, entre outros.
Mas na mesma época, as TVs exibiam desenhos como Ursinhos Carinhosos, Popples, Kissifur, Moranguinho, Rainbow Brite, Punky, Nossa Turma, e por aí afora. E mesmo atualmente temos um pouco desse tipo de desenhos, como em Jakers! As Aventuras de Piggley Winks e em Tico e Teco e os Defensores da Lei. Desenhos onde a preocupação era em resolver as coisas sem agressão, resolvendo problemas de maneira pacífica. E os problemas eram de uma escala menos cósmica (normalmente), mais pessoal: era mais importante chegar na escola com a lição pronta do que enfrentar os caras maus.
Particularmente, sempre me agradou esse tipo de situação, onde resolver as coisas é muito menos uma questão de “Bater no problema até ele deixar de ser problema!” (Sim, Bárbaros de Carisma 8, estou falando de VOCÊS!!!) e muito mais tentar resolver o problema o entendendo e o contornando ou eliminando a causa, e não o efeito.
E se isso puder ser feita de maneira fofa e divertida, tanto melhor.
Fair Leaves é minha resposta pessoal a esse “problema”, o de (ao menos tentar) criar um cenário divertido onde a violência seja desestimulada. Onde as resoluções sejam baseadas em pequenas coisas, como ajudar o velho senhor da moenda a fazer farinha, ou colher maçãs para dar a um menino que precise de um abrigo até que ele possa seguir adiante pela cidade, entre outras coisas.
Fair Leaves tem uma série de inspirações, tanto em mídias como TV, Livros e Jogos, quando em RPGs. As que vou dizer a seguir são as mais óbvias, ao menos na minha opinião.
O clássico desenho “Nossa Turma” (Get Along Gang) é uma referência fundamental. Os personagens exemplos e a própria cidade de Fair Leaves são fundamentalmente inspiradas na Green Meadows de “Nossa Turma”. Além disso, o ar de certa forma bucólico do cenário tem um pouco a ver com “Nossa Turma”, onde resolver um problema pode ser simplesmente algo como revelar a verdade a uma amiga por correspondência para quem você mentiu, dizendo ser alguém que você não era, e aprendendo no caminho.
Em termos de jogos de videogames, não tenho vergonha em dar como inspiração um jogo da Disney, Disney Magical World para Nintendo 3DS, onde você constrói coisas, aumenta de nível e obtêm itens que precisa para seu café interagindo com diversas pessoas, em especial com os clássicos personagens da Disney, como Mickey, Ursinho Pooh e Alice.
No mundo dos animes e mangas, qualquer slice of life mais simples pode ser incluído aqui, mas em especial eu queria deixar uma recomendação pouco conhecida, que é Shukufuku no Campanella (A Benção da Campanela, em uma tradução livre). Derivado de uma visual novel (e com os óbvios fanservices) ele, em sua versão anime conta a história de Minette, uma Automata em um mundo mágico, e como ela interage com as pessoas que a despertaram e tentam entender a relação disso com o aumento na magia e nos monstros no mundo. E como isso tudo depende de Minette, e das ligações que ela fez com as pessoas.
Nos RPGs, como Fair Leaves é baseado em Fate Acelerado, minhas referências imediatas são Young Centurions e Do - Fate of the Flying Temple, além de Strays, da Wordsmith Games. Mas fora do mundo Fate e com muito impacto em termos de tom e regras eu citaria:
Little Wizards, com seus Maginhos (Lil’ Mage) e Feiticeirinhos (Lil’ Sorcerers) dos dois lados do Mundo-Moeda resolvendo encrencas com doces que fazem as pessoas ficarem infantis e hotéis onde um fantasma aprisionado pode ajudar o hotel a ser popular, ao dar os agradáveis sustos que as pessoas do lado Coroa do Mundo-Moeda tanto apreciam! Ao lidar com resoluções mágicas e fantásticas a problemas, e falhas e tudo o mais, procura-se contar pequenas e agradáveis histórias sobre coisas bizarras e maravilhosas.
Por outro lado, temos Golden Sky Stories e seus contos envolvendo youkais que procuram entender as pessoas e as coisas humanas, ao melhor estilo Ghibli, como Totoro e Arriety, onde não existe nenhum tipo de regra de combate e nem mesmo tabelas de dano, algo tão “onipresente” em RPGs.
Essa é a ideia em Fair Leaves: o grupo sendo crianças ou jovens de uma cidade bucólica e pequena, onde resolver-se problemas é muito mais ligado a lidar com as complicações da vida do que em combater inimigos poderosos. É sobre resolver os pequenos quiprocós da vida, sobre os pequenos problemas que às vezes se acumulam em um problemão, aos quais os personagens deverão resolver… E algumas vezes complicar!
Pode parecer estranho, mas acredito que essa é uma forma de explorar-se uma faceta normalmente ignorada nos RPGs: mesmo RPGs mais “profundos” normalmente são jogados à maneira Dungeon Crawl, com personagens estraçalhando todos os seus inimigos e batendo nos problemas até que os mesmos deixem de ser problemas…
Espero que você aprecie a sua visita a Fair Leaves…
… e mande um abraço à senhorita Mercy, da loja de doces, por mim!