Um conto do Templo Voador

Por Fábio Emilio Costa

Pergaminho Eterno olha para a luz que guia os Peregrinos de volta ao Centro dos Muito Mundos, onde fica seu lar, o Templo Voador. Sua manta azul escura e o conjunto simples de camisa e calças brancas estão sempre limpas, como a vaidade dele sugere. Mesmo voando rápido, sua cartola e o monóculo que usa sobre o olho direito permanecem intactos, sinal da elegância de um verdadeiro Peregrino do Templo Voador, ao menos na concepção do mesmo:

- Estou exausto, Pergaminho Eterno. - diz a poderosa voz ao seu lado, também voando pelo Espaço entre os Muitos Mundos. Pergaminho Eterno olha para o lado e vê os braços poderosos e o sorriso contagiante, ainda que realmente exausto, de Generoso Urso.

Um peregrino de tamanho quase tão grande quanto seu coração, Generoso Urso é o exato oposto de Pergaminho Eterno: enquanto Pergaminho Eterno sempre foi um estudioso que controla suas emoções e pode ser capaz de jogar xadrez com Deuses (como já o fez antes) para resolver os dilemas das Carta que chegam ao Templo, Generoso Urso é expansivo e explosivo, um Peregrino de excessos, tendo um sorriso tão amplo quanto é a sua fúria quando diante do que é Errado.

Suas roupas, assim como tudo nele, são excessivas: faixas e faixas de linho ao redor de seus braços, pernas e peito, um leve quimono branco amplo encimando o peito e calças que caberiam quase dois Generosos Ursos dentro dela, seguros em seu lugar por uma faixa.

- Devemos estar chegando logo ao Templo, Generoso Urso. - diz Pergaminho Eterno, em um tom suave e calculado, como tudo o que Pergaminho faz - Talvez encontremos outras trupes de peregrinos… - ele complementa, quando vê outros dois Peregrinos se aproximando.

De imediato eles reconhecem um dos Peregrinos que se aproxima e estranham sua presença: o enorme Rastelo que carrega às costas e o chapéu de palha que veste são incomuns de serem vistos fora do templo, isso sem falar de sua dona, com sua pele queimada da Luz do Templo, suas vestes rotas e rasgadas quase ofendendo a sensibilidade de Pergaminho Eterno, e o olhar duro quase derrubando Generoso Urso.

Ao lado da mesma, Pergaminho Eterno nota depois de um tempo, uma mirrada, quase imperceptível, presença: uma garota pequena, até para a proporção de todos os Peregrinos (com a exceção óbvia de Generoso Urso) e magra, suas vestes são bem comuns, o que a torna “invisível”, ainda mais com suas habilidades de ocultar sua presença ao ponto de praticamente “desaparecer”, uma habilidade incomum, mesmo se considerar que quase todo Peregrino possui algum tipo de habilidade estranha ou mágica, assim como os Monges que os criam no Templo Voador.

- É raro ver vocês duas, Rastelo de Aço e Vento Silencioso, longe do Templo. - diz Pergaminho Eterno, com um leve sorrisinho. Na verdade, as duas não se incomodam, pois ambas conhecem Pergaminho Eterno e, embora ele aparente ser arrogante, na realidade ele o faz por sua extrema rigidez consigo mesmo enquanto sua educação. Não à toa que Pergaminho Eterno é o peregrino quando algo envolvendo negociações e tradições deve ser resolvido.

- Um planeta no Céu do Pó estava com muita fome, e suas sementes foram roubadas por um dos impérios do Céu do Metal. - diz Rastelo de Aço - Minhas sementes ajudaram por um tempo, mas o solo lá era muito específico, apenas as plantas roubadas podendo crescer lá. Conseguimos pegar de volta as mesmas graças a Vento Silencioso, mas também contamos com a ajuda dos povos do império, que derrubaram seus líderes belicosos.

- Isso não foi fácil. - diz Vento Silencioso, na sua voz tipicamente baixa, o que faz com que Pergaminho Eterno e Generoso Urso se aproximem - O Tirano de Aço escondia a colheita do povo de Falshara muito bem. Levou tempo até que eu encontrasse os depósitos, e ainda mais tempo para que conseguíssemos invadir os mesmos.

- Uma bela jornada para um dilema importante ao ponto de demandar uma Carta ao Templo. - diz Pergaminho Eterno. - Nós também tivemos uma jornada interessante: dois povos iam entregar um casal de jovens enamorados aos Deuses dos mesmos. O mais belo amor sendo entrege em sacrifício pela manutenção da paz.

- Balela! - diz Generoso Urso - Deuses são sempre assim, acham que têm mais direitos que todos e não aceitam não como resposta. Bem, aqueles não eram de nada. Foi fácil demonstrar que o Deus da Batalha deles era um fracote, que se escondia atrás de uma massa de músculos.

- Em compensação, Generoso Urso, lembro-me de você todo tímido com a Deusa do Amor e da Paz. Foi tão difícil assim convencê-la de que aqueles jovens representariam melhor o ideal dela se permanecessem vivos? - diz Pergaminho Eterno, enquanto as bochechas de Generoso Urso ficam extremamente vermelhas e ele dá um sorrisinho tímido.

- Bem, acho que todos nós merecemos descanso. - diz Rastelo de Aço, enquanto eles continuam voando para o Centro dos Muito Mundos, o voo dos mesmos não dependendo de qualquer tipo de aparelho, seja balão, ornitóptero ou mesmo barca voadora.

Conforme os quatro se aproximam, eles percebem algo estranho:

- A luz do Templo… - diz Vento Silencioso - Onde está a luz do Templo?

- E que vento é esse? - diz Rastelo de Aço, quando um poderoso vento giratório os atinge. Generoso Urso consegue agarrar tanto Vento Silencioso quanto Rastelo de Aço e levar até um local seguro, um pequeno torrão de terra de uns 40 metros, mas Pergaminho Eterno não tem a mesma sorte:

- O QUE ESTÁ ACONTECENDOOOOOOOOoooooooooo!?!?!?!?!?!?!? - os Peregrinos ouvem Pergaminho Eterno gritar, e percebem que ele não consegue voar, caindo igual uma rocha para o centro do turbilhão de pó e cinzas no local onde ficava o Templo Voador. Nenhum sinal dos monges, dos dojos de artes marciais, das enormes bibliotecas, dos laboratórios de pesquisa…

Tudo sumiu…

Tudo se foi…

Rastelo de Aço e Vento Silencioso sentem uma profunda melancolia e percebem que com isso não podem voar. Generoso Urso também sente isso, mas não possui tempo de se sentir melancólico: Pergaminho Eterno está rodando cada vez mais rápido em meio ao turbilhão de pó e cinzas.

- Aguente Firme, Pergaminho! - diz Generoso Urso. - Vocês duas, fiquem aqui, que eu irei resgatar Pergaminho Eterno. Aparentemente sou o único que ainda consigo voar.

- Não seja louco, Generoso Urso! Você não conseguirá resgatar Pergaminho Eterno sozinho. Poderá ter o mesmo destino que ele… - diz Rastelo de Aço - Acho que tenho uma semente mágica útil comigo.

Rastelo de Aço mexe em meio às suas coisas e encontra uma pequena semente brilhante, enquanto Pergaminho Eterno continua rodando no turbilhão de cinzas e pó. Ela a planta enquanto Vento Silencioso rega-a com um pouco de água que ainda possuia em seu cantil. A semente brota em instantes, formando uma vinha em forma de corda, que Rastelo de Aço entrega para Generoso Urso.

- Faça Pergaminho Eterno pegar essa corda, e eu e Vento Silencioso ajudaremos vocês os puxando de volta. - diz Rastelo de Aço

Urso Silencioso voa do torrão de terra até o turbilhão:

- Pergaminho Eterno, pegue a corda! - diz Generoso Urso

- Não posso, tem algo que peguei no centro desse turbilhão de relance e não posso soltar. Acho que tem a ver com tudo isso! - responde Pergaminho Eterno

- Ora bolas! - diz Generoso Urso, irritado - Como sempre nos metendo em confusão! Tudo bem, não solte o que quer que seja! Vou tentar te agarrar!

Uma tentativa, e outra, e uma terceira… E apenas na quarta Generoso Urso consegue agarrar Pergaminho Eterno pelas pernas.

- Agora, vocês duas!!! - grita Generoso Urso.

Rastelo de Aço e Vento Silencioso possuem dificuldades para puxar tanto Generoso Urso quanto Pergaminho Eterno e seja lá o que Pergaminho Eterno pegou. Pergaminho Eterno cai no torrão de terra, suas roupas esfarrapadas, seu cabelo bagunçado, e faltando sua típica cartola. Conforme ele se recompõem em alguns instantes, o turbilhão desaparece do Espaço entre os Muito Mundos, deixando apenas escuridão no lugar, além do terrível vazio da ausência do Templo Voador, provedor de luz e calor para os Muito Mundos.

- Oh, puxa! - diz Pergaminho Eterno - Odeio estar nesse estado lastimável… Minha Cartola! Cadê a minha Cartola! - ele diz, quando sua preciosa cartola lhe cai à cabeça, escondendo-lhe os olhos e fazendo os demais Peregrinos rirem do estado lastimável desse elegante Peregrino. Ele ergue a cartola e faz “Humpf”, ao colocar a mesma de volta depois de a limpar, mas no fundo sabe que todos precisam disso para passar esse estado de perturbação.

Mas ele não passa por muito tempo.

- O que aconteceu com o Templo? Como ele poderia desaparecer assim? - diz Vento Silencioso, em um tom normal de voz, o que é quase um grito para a mesma

- Não sei! - diz Generoso Urso - Pergaminho Eterno, alguma vez ocorreu fato semelhante?

- Nunca! - diz Pergaminho Eterno - Em nenhum dos registros, lendas e anedotas sobre o Templo, jamais foi mencionado sequer que o Templo tenha desaparecido. De fato, até onde se sabe, o Templo sempre existiu!

- E quanto a isso? - diz Rastelo de Aço, observando o que Pergaminho Eterno recuperou de dentro do turbilhão - Alguma coisa que você saiba sobre isso, Pergaminho Eterno? - ela diz em um tom até ríspido, se arrependendo em seguida, ao lembrar das palavras da Monja Carvalho Orvalhado: “Você sabe plantar muito bem, Rastelo de Aço. Mas tome cuidado, pois o Rastelo precisa ferir a terra para que se possa plantar, mas a ferir demais apenas serve para que nada cresça dessa terra. E o mesmo vale quanto às pessoas.”

Pergaminho Eterno observa o objeto que recolhera, agora percebendo que o mesmo é ovalado e razoavelmente grande, tendo em torno de 60 centímetros, branco rajado de esmeralda:

- Parece algum tipo de ovo… E esses detalhes lembram muito as colunas do Templo… - diz Pergaminho Eterno. - Mas que tipo de mistérios ele reserva? - ele diz, quando percebe que o mesmo está começando a se quebrar, como se estivesse começando a chocar…

- O que está acontecendo? - diz Rastelo de Aço - Como esse ovo pode estar chocando?

É quando Pergaminho Eterno analisa a situação:

- Seja o que for esse ovo, está relacionado a nós e ao desaparecimento do Templo. - ele diz, ainda ajeitando as roupas - Pelo que percebi, ele reagiu à minha proximidade e ao meu toque… Além disso, percebo que consigo sentir-me capaz de voar.

- Gastou palavras demais, Pergaminho Eterno. - diz Generoso Urso - Esse ovo é seguro?

- Há apenas uma forma de descobrirmos. - diz Pergaminho Eterno - Vamos tocar o ovo e chocá-lo de uma vez. Seja o que for que saia dele, mesmo que ruim, não pode ser pior do que a ausência do Templo Voador para os Muitos Mundos. Observem ao seu redor e perceberão o que estou dizendo.

Todos olham para o Espaço entre os Muito Mundos e conseguem ver alguns planetas mais próximos se chocando, a influência ordeira do Templo lhes faltando e começando a tornar os Muitos Mundos em caos. Grandes barcas voadoras começaram a fugir deses planetas, abandonando-os antes dos mesmos virarem pó.

- Os Muitos Mundos estão perturbados pela ausência do Templo. - diz Rastelo de Aço - Pergaminho Eterno está certo: seja o que for esse ovo, deve ter algo a ver com o desaparecimento do Templo. Vamos terminar de chocar esse ovo.

Os Peregrinos se aproximam do ovo, que começa a ritmicamente pulsar, pequenas fendas se abrindo, enquanto os Peregrinos sentem o calor familiar do Templo os penetrar, fazendo-os vibrar de emoção dentro de seus corações, seus pés levitando levemente sobre o torrão de terra onde se resguardaram. Por fim, algo começa a quebrar a casca do ovo, até que de dentro do mesmo uma criatura grande e serpentínea, com uma plumagem esverdeada, alçando o Espaço próximo ao torrão:

- Um dragão! - diz Vento Silencioso - Do ovo surgiu um Dragão!

- Mistério em cima de mistério! - diz Pergaminho Eterno, quando o Dragão volta-se para os Peregrinos

- Cuidado! - diz Generoso Urso - Ele vai nos atacar!

Os Peregrinos sobem ao céu, sentindo suas habilidades de vôo, ensinadas pelos Monges do antigo Templo Voador, retornarem aos mesmos. Entretanto, quando Vento Silencioso sobe ao céu, ela percebe que o Dragão muda de direção, na direção dos Peregrinos.

- Ele vai nos perseguir! - diz Generoso Urso, quando eles percebem que o Dragão para diante de Vento Silencioso, os profundos olhos reptilícos observando-a, de maneira curiosa.

- Saia daí, Vento Silencioso! É perigoso! - diz Rastelo de Aço

- Esperem um pouco! Deixe-me ver uma coisa. - diz Pergaminho Eterno, voando lentamente para próximo de Vento Silencioso e do Dragão.

Pergaminho Eterno vai se aproximando, levando a mão lentamente para o grande focinho do Dragão, que observa calmamente a ação de Pergaminho Eterno. Quando este toca o Dragão, ele tem uma sensação confortável, como se estivesse tocando os milhares de pergaminhos dos Registros do Templo. Ao mesmo tempo, o Dragão demonstra-se à vontade com o toque do Peregrino do Templo Voador.

- Ele é apenas um bebê. - diz Pergaminho Eterno - Ele precisa tanto de nós quanto nós dele.

- Nós?! Precisarmos de um Dragão?! - diz Rastelo de Aço - O que precisamos agora é descobrir o que aconteceu ao Templo, Pergaminho Eterno! Nunca imaginei que, logo você, se daria a fantasias!

- Mas não é uma fantasia, Rastelo de Aço! - diz Pergaminho Eterno - Não percebeu como nossas habilidades místicas e nossa capacidade de voar voltaram a atuar tão logo o Dragão saiu do Ovo? Isso só pode ser um sinal do Templo Voador de que devemos usar o Dragão para seguirmos adiante. E ao mesmo tempo, deveríamos ensinar o Dragão sobre as coisas da Vida. Ou seja, ele será como um Peregrino, assim como nós.

- Os últimos Peregrinos do Templo Voador cuidando de um Dragão… Percebe o tamanho da ironia nisso, Pergaminho Eterno? - diz Rastelo de Aço

- De qualquer modo, acho que muito do mistério sobre o Templo está relacionado a esse Dragão. - diz Pergaminho Eterno. - Olhem, mais uma prova do que digo. diz ele ao encontrar algo no meio da plumagem do Dragão. Uma carta.

- Mais uma Carta ao Templo? - diz Vento Silencioso - Como ela pode ter vindo parar aqui se o Templo desapareceu?

- Isso não sei, Vento Silencioso, mas o que posso dizer é que com certeza isso prova que o Dragão tem alguma coisa a ver com o desaparecimento do Templo. - diz Pergaminho Eterno, enquanto ajusta seu monóculo para ler. Todos sabem que isso é apenas um ritual empolado de Pergaminho Eterno: na realidade ele tem a visão perfeita.

Conforme ele lê, ele vai falando sobre a Carta:

- No planeta Jukku, estão preocupados com a possibilidade de um planeta vizinho ser forçado a colidir com o mesmo por causa das influências de um terceiro. Entretanto, eles precisam desse planeta, pois é dele que vem a pouca água que Jukku possui. A queda de tal planeta em Jukku pode provocar um dilúvio como nunca se viu antes, e eles pedem nossa ajuda. - diz Pergaminho Eterno, resumindo a Carta - Acho que devemos ir: aparentemente, somos tudo o que restou do Templo. Não sei o que pode acontecer com os Muitos Mundos com a ausência do Templo, entretanto acho que devemos continuar a missão do Templo. Algo me diz que o Dragão concorda comigo.

O Dragão faz um menear de cabeça que leva os demais à conclusão, embora Rastelo de Aço continue com críticas:

- Acredito que deveríamos verificar o que aconteceu e para onde foi o Templo: os Muitos Mundos vão entrar em desordem com a ausência do Templo, e não estou falando apenas de Mundos colidindo, mas de pessoas tentando aproveitar e plantar suas sementes de maldade por aí.

- Compreendo o que você quer dizer, Rastelo de Aço, e por isso mesmo acho que devemos continuar nossa peregrinação e a ajudar os povos dos Muitos Mundos. E tenho a séria impressão que iremos certamente encontrar pistas sobre o que houve com o Templo se mantivermos nossa peregrinação. - diz Pergaminho Eterno, enquanto os demais, mesmo Rastelo de Aço, concordam com a cabeça.

- Sabe onde fica Jukku, Pergaminho Eterno? - diz Rastelo de Aço

- Sim. Venham comigo. - diz Pergaminho Eterno, voando na direção oposta, enquanto pensa que, mesmo com a ausência do Templo Voador, ainda existe muito o que ser feito, muitas Cartas com Dilemas a serem resolvidos.

E que apenas eles quatro poderão resolver tais problemas agora, até descobrirem o que houve com o Templo Voador.

The Spirit of Optimism

By Fábio Emilio Costa

It was late in the night. The moon shone high in the sky, while the last lamp lights at McNash & Sullivan Circus and Shows were turned off, just some candles into the circus barracks, tents and wagons.

In one of those wagons, a man with a old, although vigorous, face looked to the pendulum he held over the US map. His tailcoat and top hat, that he used during his shows, rested over a trunk with all his possessions.

His eyes where fixed into a point over which the pendulum stopped, held by forces beyond common people understanding. But this man was no common people. Never was, never is, never would be. He had a mission:

- Ongelooflike! Unbelievable! So near, and so far at the same time! - he said, swearing into a language not so common in US, and that he seldom used: Afrikaans, the language of the Boers, the farmers that crossed South Africa, and conquered and occupied that land, fighting adversities and powerful enemies like the native people, like the Xhosa and the Zulu, and other conquerors, like the English and the Portuguese.

He by himself had seen lots of those conquests at the last century, when he was part of the Century Club, a secret society focused into the humanity progress,

As an Artiste and Scholar, it was obvious to him becoming the Spirit of Literacy, showing that you could be lots of things if you studied and dedicated hard for this, an excel and compromise with knowledge providing you the tools to do everything you wanted.

Even being a honest charlatan, a living Munchhausen, calling himself Don Cagliostro, Master of Mesmerism, Mentalism and Hypnosis.

Curious is: his own “mission” was to show that literacy should topple things like charlatanism and mysticism, things from which his “powers” depends of.

Frederick Van Der Merwe was born at Cape Town, in January 1st, 1800, from a Boer diplomat and an English actress. With time, they chosed to emigrate from South Africa to Napoleonic France, to avoid the wars, turning into artists.

Even being so small, at five he already learned to read and write, being also very good at music, maths and rhetoric, being mentored at home by his parents, Andraas and Melody. At 10, he already was acting at his parent’s shows, and developing his alter-ego, Don Cagliostro.

During the 19th Century, from the time he turned 18, he had not aged a second. And so, he could see and stimulated a series of great events, like Darwin’s voyage in Beagle (at least partially), and the publication of Marx’s Das Kapital (an analysis that, by an unfortunate destiny, turned into a pamphlet).

He also fought lots of enemies, including the nefarious and virtually immortal Doctor Methuselah, so called Master Mathemagician, powers he supposedly stolen from Socrates and the Hyppocratics.

Not that means too much, as this was all old news.

Like the Grey Ghost and all the 19th Century Spirits, he knew that, sooner or later, Time would take its toll for the powers and experiences granted. At January 1st, 1900, a new generation of Spirits (and their opposites, the Shadows) had came to the world, the hopes and ambitions of this century (and the death rattle from the century before) personified. Since them, he and the other 19th Century Spirits started to leave this world. His last mission would be, with the help of the Century Club, find and train one of those Spirits.

That was the only reason he left his old station at the Club as archivist and scholar and get back the field, even after the terrible wounds the suffered at his last battle, into 1892, against the Shadow of Industry. Looking now, with the recent events with workers being spanked, mauled or even killed, it was a Phyrric Victory that against Leonard Charlesmagne.

The scrying method he was using was simple and very imprecise, which frustrated him a lot, but this time looks like he’s right: during the matinee show, he felt a faint, uncommon presence. Not like the powerful and evil emanations from Kult-ah-saleh, the old Shadow of Mystics, that put Paris under his power via hypnosis and old Egyptian mystical practices, lost since ancient times until then. But a very soft and, why not, warm presence.

Frederick got out the trance and chose to not think on this for now: it’s better to left this for tomorrow, as his body is very tired and needs some sleep to recover himself. Curiously, he was a very light-sleeper at the 19th.

- I think soon it will be the day… Hope I can find the one I need before this.

He changed clothes and turn the lamplight off, the moonlight being enough to him to go to bed.


- And this one is for you to learn not be a so great liar, boy! - yell the man, while whipping the chubby boy, the belt hitting the boy’s back very hard. The chubby boy didn’t react or wimp, although the tears that cross his face.

Curiously, the boy’s strawberry blond hair could deceive it, but otherwise no one could mistake him with the man that was whipping him. After all, that was his foster father, being Nicola Castrogiovanni an orphan.

Nicola didn’t remember a little from Tuscany, where his parents lived and where he was born, and remembered very little from his parent’s faces, although he remembers very fondly from his mom’s beautiful face, laying into the coffin where she slept, and would still until the Reckoning time, when she would come back to life.

Those memories filled him with hope, even being kicked from foster home to foster home, lots of them more interested into the extra money government gives them or the extra hands they had for the work, none of them wanting him because they loved him.

He didn’t understand why his foster parents never liked him, even being a so well-mannered and well-behaved kid, doing all his chores very well. He always asked himself why the other kids thought he as a silly boy. He just believe that everything would always end well, so it was nonsense to complain or not to do anything when asked.

Even after the trashing he suffered.

Even knowing he’s suffering because of his big bully of foster brother.

And even knowing that he would be sent to sleep at the stables.

All right: the straw was warm and the horses liked him.

Before getting out, his foster mother, maybe the only one that shown any kind of love to him, gave him a parcel, the one she always gives when he was sent to sleep at the stables.

- Nicola, John will be alright tomorrow. Maybe everything will be okay then. - she said, while he notes the parcel was a little bigger than normal: normally she would only pack an old pyjama to him.

Nicola chose to not complain and got out the house. Anyway, it was worth of: Miss Prescott gave him a pair of tickets to the circus as the best kid at spelling bee. His brother took the tickets from him, but he was awarded another one as he had helped to spread the circus opening’s handbills. As Nicola was already a newsie, he just slipped the pamphlets into the newspapers.

So the circus get crowded, but he took one of the best places to see the show, specially the fascinating Mentalism show. That proud and confident man, Don Cagliostro, looked so powerful and self-confident that Nicola thought he could be as powerful and self-confident than him.

However, when he got at home, later in the night, his foster parent thought he took the newspaper’s money and spent it in the circus. When he talked his story, he was branded as liar and the whipping started.

When Nicola got into the stable and opened the parcel, there was a letter on it:

Nicola, please, run away. My husband want to kill you and hide your body! Please, run yourself away and forget us! I don’t want you to be killed, but I don’t want you cause us any harm!

Nicola looked worried to the letter, thinking if this would be really truth. Then he looked the other things in the parcel: there was a little leather knapsack with some clothes and papers. Those, he knew, were his birth certificate and adoption papers.

She was, in fact, giving him freedom!

Nicola, even all bruised from the whipping, had some hope in the eyes. He get out the stables, crossed beside the pigsty and walked through the wheat fields till he get into the road that gone to the city.

Nicola looked to the sides of the road. He knew that trying to get back the orphanage would only result in being sent back that house, where he would be at risk. And the next other city is miles away, at least one full day on foot. The train station is closed now, and certainly the police would not help.

He thought, so, to go to the circus and ran away with them. He could drop them at a big city where he could try anything better. He worked as newsie, so he could work at anything at city. In worst case, he would stay with the circus.

He walked during some hours in the night, carefully avoiding the darkest tracks: snakes and other wild critters could be very sneak and the hide in the shadows. Nicola had more than his share on stories of kids that, after ran away, were attacked and killed by wild animals, their guys disputed by buzzards when the sun shone.

After all, he came into the circus, now very creepy without all the lights, the darkness giving a spooky air to the tents and wagons. He looked for all the animals sleeping, trying to find a place were to relax his tired body. He found a tree where he could laid off. The tiredness (strenghted by their whipping) made him doze off and black out as soon as he puts it knapsack under his head.


- Hey, you kid! Should you not be at school now? - Nicola heard someone saying, while being poked out of sleep.

He yawned somewhat and started to open his eyes, seeing a very small person, almost his size, poking him. That person is smiling, although his nose was wrinkled for some reason. When he had waken up enough to his smell sense works again, he see the reason of the nose wrinkling: he was stinking afoul!

- Crikey, kid! You should be really as sleepy as dead to not see you were lying next the nest of a mama skunk with a litter. Better get out there before she sprays you again. - says the small person, with a somewhat squeaky voice.

Nicola then notes that that person is a midget: he looks like a very small adult. His smile was a very confident one, and he was using very practical clothes: white cotton shirt, suspenders-held pants, a very old fabric hat and shoes as old as the hat. His hair was jet black and his eyes almond brown.

- Looks like you had a big trip, kid. I think Mary could help you with a bath and a good bowl of porridge to fill you in. Sure, you’ll have to pay that. - he said

- I don’t have any money, mister…

- Call me Pyg. Stands for Pygmalion, the name my dad gave to me. Everyone here in the circus calls me Pyg.

- I’m Castrogiovanni, mister. Nicola Castrogiovanni. I ran away from home, so I have no money to pay for it. But I can work for food. I’m very good at cleaning and tidying things.

- Wait a minute. Now I remember from where I knew you: you’re that newsie kid that won a ticket for helping us with the handbills. - says Pyg

- Yes… - said Nicola, while Pyg brought him to the circus.

The people started to look Nicola with weird eyes. Sure, people looks you weird when you were stinking as a skunk.

Pyg took Nicola to a very beautiful woman, with some Romani blood on her as far as Nicola could see, and talked to her.

He noted something is wrong by the scared face she did when looked his back.

- Oh, dear me. Kid, this will hurt a little, but we need to take this shirt NOW. And not only because of the mama skunk spray! - she said - By the way, I’m Mary, the circus psychic. I also help things to get under the way here, helping provide the food and things everyone needs, and putting everything into place.

She took Nicola’s shirt, which made him for some reason yelp.

- Dear me! If that was the life they give you at home, you really needed to run away! - she said, showing him his back using mirrors.

Nicola was accomplished with the bruises at his back, result of all whippings from his foster parent, but the last one had get really deep, so the blood drenched in the shirt without Nicola being aware of this. When Mary took the shirt off, the wounds had opened back. Mary put some iodine on the wounds, which made Nicola cringe.

- Alright, boy, I think the worst of the mama skunk spray was in that shirt. Now, go over there and take a bath. You can use this soap bar. - she said, giving him a little bar of homemade soap - Scrub yourself very good, specially in the back, to get off from any skunk stink and drenched blood, and came back here after so I can heal those wounds. In the meantime, I’ll see if I can find you a proper shirt.

- I have some clothes into my knapsack. - said Nicola

- I know you have, kid. - said Mary - But we need to see if that mama skunk had left her perfume at them. You know that is not that easy to make skunk stink go away, right? After that, we’ll talk with Mr. McNash, the circus owner, about how we can help you, and you help us.

Nicola agreed and get to a small toilet outside the tent to take his bath, being conducted there by Pyg.

And Mary got into another direction.


As every day, Frederick was, after wake up, training, in front of a full-body mirror, his Mentalist expressions, before going to breakfast.

He knew that the most important part of Mentalism involves using menacing expressions, that make people go freeze by instinct. Those expressions were crucial to weaken others’ will, readying the targets so he could then apply all the suggestions he could.

He did a menacing expression, analyzing the result, when someone called him, outside the wagon:

- Fred, it’s me, Mary!

Frederick knew that Mary was there because very few people called him that way, even in the Century Club. In circus, only Mary called him that way. Everyone else called him Frederick, or, under the Big Top, Don Cagliostro.

- Just a Minute. - he says, opening the wagon door, and so Mary got into the wagon.

Mary Alethea, as she calls herself, is one of the Club retainers, born at January 1st of a non-Century turning decade. In her case, at January 1st, 1870. Being a retainer, she was one of those peoples who helped the Centurions, the Spirits of the Century before, to find the new Spirits and bringing them to the Century Club.

Mary knew Frederick when her family had to get out Prussia for America, and she had been put under Frederick’s protection. When Frederick’s time had “expired” and he started to grow old, it was Mary that convinced him to join her in the quest of finding a Spirit and train him as a legacy of them to the new Century.

- What happened? - he asked

- Fred, I think I found the one we are searching for. He came to the circus. - said Mary

- Are you sure? Had you seem his papers? You know that the birth certificates are not trustworthy in this case. - said Frederick

- I didn’t see any papers, but… Look: that boy had been found sleeping next that tree that is a nest for a skunk with a litter. You know the one I’m talking about, right? - she said, and he agreed - You know how fierce she is, even more now that he has a litter. Well, she just left him with a big spraying, not biting him and so on. And, when looking him, I’ve seem lots of bruises and scars at his back, very bad ones. Remember what I said about the 20th Century Spirit were searching for? What I had seen at the cards?

- Sure: undeserved wounds.

- Yes. Look there: I don’t believe that little gift of God, that little angel, would deserve being that beaten. He was really hurt and coped with this, and by what I’ve saw, without complaining. And looks like there’s no bad time with him: even being smelling like a skunk he was so calm, like he knew we would help him unconditionally.

- Maybe he’s just one of those poor little orphans that tries to find a home. There’s lots of them on the roads in America those days. - said Frederick

- Maybe, but… Look: you know about my Scrying Eye, right? - said Mary, and Frederick agreed: Mary’s heterocromic eyes were not just a family mark, but they had powers, smalls but true. - So: I could not take my eyes from him… Like he was desperately needing a hug. I could not explain this.

Frederick seems Mary was business about this: a Spirit of the Century gift could explain that motherly surge on Mary.

- I see. Well, let’s pretend nothing is happening. If he’s not the one we are searching for, at least he’ll not harm us or the circus, because he’s not a bad boy if you’re saying the truth. So, we could help him anyway and then get back to our quest everything said and done. - said Frederick - Where he’s now?

- Taking a bath, poor thing. He should really be trashed hard to pass out so deep he didn’t notice he was sprayed by a mama skunk. Skunk stink is so foul that normally people wake up at the time to run the Hell away from them. - said Mary.

- Alright: I’ll see him at breakfast. I think he’s getting out the bath now. Go take care of him. I’ll join you later. - said Frederick, while Mary got out the wagon.


Nicola gone aware on how much the whipping had hurt him when he scrubbed the wounds with the soap bar. The smell of the soap was faint and good… But the effect on him was obvious, the little tickling in his back showing that the wounds were now clean.

Soon he finished to bath himself and dressed into only his underwear and pants, as he took nothing else to dress, and had got back Mary’s tent. She then inspected Nicola to see if he was clean enough.

- Much better. - said Mary, approvingly, while passing more iodine and arnica into Nicola’s wound, what made him cringe again. - I found a shirt that will do for now. And I’ve found those into your knapsack while checking your clothes. They’re yours, right?

She shows Nicola a Holy Mother of Mount Carmel scapulary and a red checkered felt casquette.

- Looks like they are very, very important things for you: even mama skunk had not the courage to spray this. - said Mary, while Nicola took those items like prized tokens.

- Yes… They are the only things I still have from my parents. - said Nicola

- I see. And here is your knapsack, with all your papers on it. - says Mary - I had taken the clothes to clean them and remove the skunk stink from them later. Go on, you can check the papers.

- No need for, I know you would not steal me.

- You’re a so goody two-shoes. Never said you to not trust gypsies? - said Mary

- Yup… But… You know, I always trust everyone. I never be able to do otherwise.

Mary smiled:

- It’s good to be treated nicely for a change. - said Mary, while Nicola put the common white cotton shirt Mary gave, a little baggier for him, even he being a chubby kid - Sorry about the baggy shirt. It was the smallest I found with people, and you’ll have to use it till I can clean your other clothes and remove the skunk stink from them. The one you were using unfortunately I had to throw away: the drenched blood and the skunk spray rendered it useless.

Nicola agreed:

- That’s okay.

- Now I’ll take you for the cookhouse, where we eat our meals. I believe that today Franck is doing pancakes. He’s our strongman, and, even being strong as an ox, he can very swift and delicate when needed. And he’s a great cook: we could bring any kind of grub to him and he does Heavens with it. Obviously, hunger gives taste. - said Mary, smiling, while Nicola’s belly growled.

Nicola walks to the cookhouse, while saw all the crew walking at the backyard: some people were training their gigs, others reviewing and repairing the props or clothes, some feeding the animals, some chatting with each other. Curiously, where many could see just a bunch of freaks, Nicola felt it like a family: even when the midget talked with one of the freak show guys, everyone sees to like each other, like a family, something that, Nicola would never admit, he had a hunger and for what he would pay all the gold in the world.

When getting at the cookhouse, he felt the smell of porridge, toast, eggs and bacon, and pancakes with maple syrup. He looked everything with hunger and happy eyes, while a big man, with muscles as big as himself, spinning the pancakes, thick and gold, with swift, precise movements, incompatible with the his powerful arms.

- Franck, this is Nicola. He ran away from home and came here. He said he can work here to pay for food, but, you know, empty bag don’t stand. Can you fix something for him? For me, the same one. - says Mary, showing Nicola to Franck.

- Oui, Mademoiselle Mary, but mister McNash know you’re with another homeless boy? - said Franck.

- This is between me and mister McNash, Franck. This little mister has taken a hell of a beating and, to turn things worse, slept next mama skunk’s tree. I think he needs something to cheer him up.

- Oui! - said Franck, putting some pancake and an egg in a plate. Then he took a glass of milk and sweetened it with some honey and gave it to Nicola, while doing a plate of eggs and bacon and a cup of black coffee for Mary.

Nicola sat into a little chair and put his plate and glass of milk over a table, starting to eat, while people entered the cookhouse. It was then when he saw that gray haired, black bearded and mustached man that fascinated him last night: Don Cagliostro!

- Hey, Franck. Today I’ll want just some toast and coffee, please. - said Don Cagliostro, and Nicola noted that, beside the powerful, intimidating vision, his voice was very calm and comforting, instead the brood, powerful, harsh voice in the show.

Nicola held his breath by seeing Don Cagliostro going to his table, a plate of buttered toasts into a hand and a black coffee mug into the other. He got even more silly-faced when Don Cagliostro sat into their table.


- Hello, Mary! - said Frederick, doing his best poker face. He observed the little strawberry blond kid at his left, while he looked him as if he was Santa Claus. “Really, he’s as pure as Mary said”, thought Frederick, and he feels a very thin, warm, comforting presence, when he asked Mary as it was nothing - And who is this little boy?

- Pyg brought him to me. He was sleeping at the mama skunk’s tree and, well, it sprayed him with gusto. He was smelling as a smelly skunk when he came, but now he’s as clean as an angel. I’ll talk with mister McNash to see if he could stay with us for a day or two, at least until he could be far away from here. - said Mary - Sounds like they don’t like him here. He had been beaten very harshly.

Nicola blushed when Mary cited his wounds: normally he didn’t complain about anything, to save his energy to take action when he can. If he couldn’t… Well, c’est la vie, as French class’ Madame Le Pen said.

- My name is Frederick Van Der Merwe. And yours? - said Frederick, when Nicola looked flabbergasted with that wonderful artiste talking with him.

- I’m Nicola Castrogiovanni, sir… But… I thought your name was Don Cagliostro. - said Nicola, when he could stuttered some words. Frederick laughed with gusto.

- So, looks like you really liked my tricks and show. - said Frederick, while drinking some coffee and studying Nicola’s reaction. - Don Cagliostro is my stage name. Here, I’m just Frederick for everyone. Maybe, if you stay long enough with us, you’ll have a stage name for yourself. But, if you pardon my curiosity, why had you ran away from home?

Nicola thought a little: he didn’t want to say his foster father wanted to kill him and, to avoid a bigger tragedy, his foster mother sent him away from home. But also he thought he would not avoid give some explanation, so he chosed to just left some bits of truth off.

- You know, my foster father hated me, and left my foster brother beat the crap out of me. So, yesterday night, I was sent to the stables for something he did. My foster mother gave me everything I need to run away, because she feared that, sooner or later, my foster father would beat me to death. I ran away and, very tired, I laid down next that tree, without knowing about the mama skunk. And mister Pyg had woke me, warning that I was all sprayed. - said Nicola, putting away the life threat and flourishing things a little, as he lived a big adventure.

Frederick used one of the specially trained mesmeric looks, trying to see if Nicola lied to him, trying to scare him and, this way, opening him to the Mentalism tricks if needed. However, Nicola looked him with the same pure, naive eyes from the start, without flinched in front of those looks.

“Century Club’s First Rule: the eyes never lie.”, thought Frederick, while relaxing his tense face: if he was not the Spirit they were searching for, at least he was not a Shadow, as far he found.

- Well, they are the ones who are losing something in my book. Hurt a such good kid like you? You look like a really good kid - said Frederick - Now, finish your meal, and we’ll see how you’ll pay for all this. You know that there’s no such thing as free lunch. And I know you have no money, but we are always in need of help to tidy everything till showtime.

- Could I get into the show? - asked Nicola, hopefully, as there’s nothing to him to lose.

- Maybe. - said Frederick, smiling - Anyway, we really need to see mister McNash. He don’t like hoodlums, freeloaders and eat-and-sleep people here. But, let us see how can we help you.


Mister Alvin McNash is the McNash & Sullivan Circus and Shows’ owner by inheritance: his father was the circus owner and announcer before him, and his dad before him. And if there’s something McNash would never put up with was things out of place. He shows this behavior by never, ever be seeing wearing something else than the circus announcer clothes, either inside the Big Top and outside it. And he did everything to be presentable, no matter the weather, temperature or anything else.

- Mr. McNash, it’s Frederick. Could we speak a little? - asked Frederick outside his wagon.

- Just a minute. - said McNash, while tidying up the tailcoat

When he opened the wagon’s door, he saw Frederick with Mary and Nicola. He sighed and asked:

- Another orphan kid, Frederick?

- Sir, Pyg found this kid laid down next the mama skunk’s tree, sleeping even after being hit by a very big spray from her. Mary gave him a bath and he ate some pancakes at the cookhouse. In fact, our little Nicola here had made clear he wants to work the food he ate. I think we could put him to help us with no problem. He looks a good kid.

- Humm…. - said McNash. The other orphans that the circus catched around US were just a bunch of freeloaders. But for some reason that kid looked otherwise for him: he looked to have strength and will to work, which the others had not, and had a very different, hopeful-filled, look. Looks like he was really a very different kid.

- Alright: send him to Pyg and Roland for help with the animals. - said McNash - Then, let us see if there’s something to him to do in the Top, even selling popcorn or nuts. Hope you behave yourself, boy, and do your job dearly. - said McNash to Nicola, with a severe, but somewhat sweet, look.

- Yes, sir. I promise do my job very well and learn to do the things very fast. - said Nicola, with conviction

- Very well. I like your attitude. So, let’s go! - said McNash, going with Frederick and Mary to put Nicola at work.


Roland MacIntyre was from Scottish ancestry, with a small and strong body, almost as strong as Franck, and turned the animal handler after his father had the job.

Instead of many animal handlers, however, he tried to show that respect to animals were the best way to make them do what he wanted, without getting the whip or act harshly with them.

He was taking care of Eliah, the big elephant that was the most important animal in the circus, with Pyg’s help, when McNash, Frederick, Mary and Nicola came near them:

- Heya, is the tree kid. - said Pyg, smiling, while scrubbing Eliah’s side with a soup soaked broom - Mister McNash approved him?

- We still don’t know. - said McNash - At least for today he’ll work for the food he’ll ate. Roland, I think you need a extra pair of hands to ease your job.

- Think so. We have lots of work today. - said Roland, while the others got back to their business, leaving Nicola with him and Pyg.

- What’s your name, boy?

Nicola answered and then Roland said:

- Alright, Nicola… Your first job will be helping us to clean our Eliah here. Use one of those brooms near you to scrub her back’s hide. Don’t push too much on her: this will hurt her and she don’t like this. However, don’t push too little: elephant hide is very thick, so you need to put some strength to remove the dirty on it. Do you believe you can do this?

- I think so. At least I can do my best. - said Nicola

- Good. I like your attitude. - said Roland - It’s better to take your shirt out, because you’ll be very wet very soon.

Nicola took the shirt out and took one of the big, heavy brooms, soaking it into the soapered water next him. Obviously at first he had some problem, but very soon he was helping into Eliah’s bath.

He soon discovered the best way to scrub Eliah’s hide with the broom to clean her without hurting her. She gave some happy roars, which scared Nicola at first, but as long he grew accustomed with this, he grew happy with Eliah’s happiness, while finishing her bath, cleaning her very good. He was tired and sweaty, but with a large smile on his face that glad Roland.

- Very well, boy, think you have a knack for the circus. Now it’s time to feed Khan, the lion. - said Roland while going to the lion’s cage.

- Two important words while dealing with animals: Respect and Safety. Old Khan here is as good as a kitten, but this is not reason to let the guard down. - said Roland, when the get next the cage, while Pyg, that left a little before, came with a big bucket full of bloody, raw meat cuts, including some guts. - Hope you have no problem in dealing with raw meat. - said Roland.

In fact, Nicola never dealt with raw meat before, but he didn’t want to blow everything up by being a coward or a slump, even more that, now that he ran away, the circus was his best chance for a better life.

- I think I can deal with this. - said Nicola, picking some of the bloody meat cuts from the bucket.

It was something very messy and lengthy, and didn’t help that Khan’s cage, while big, was very smelly from all the lion poop. But the lion, roaring, looks that liked Roland’s care a lot, even more with Nicola’s help.

- Doesn’t he get out the cage to spread its legs? - asked Nicola, while putting, through the cage bars, some big meat cuts for Khan.

- We can’t let him spread its legs out of presentations. Safety reasons. But we have some places were we can place him into bigger cages, where he can take a walk safely. - said Roland - I don’t think he like this that much, but unfortunately we can’t put him in bigger spaces. Believe me, I would love to have some acres of land where Khan could live in peace.

- I understand… - said Nicola

After Khan, Nicola helped to feed the hippopotamuses. That was not that different than feed horses, thought Nicola, beside the big food buckets to put at the troughs. In the end, he was tired, but very happy.

- You’re really a good kid, Nicola. - said Roland, while they cleaned their hands and the worst of the sweat - Hope mister McNash take you with us. We need hardworking people like you here. Well, time of the lunch. Hope you like some chili.

- I like, sir. - said Nicola

- And then we’ll see the place Pyg’ll put you into our show. I think nothing that big, but you look a full of talents little boy. - said Roland.


Nicola ate some chili con carne made by Franck. It was like Mary said: hunger gives taste for food. After a very cool glass of lemonade Franck gave him as dessert, he had gone with Pyg to the clown alley.

- Now look, Nicola: the main circus shows are about prowess, courage, agility, and graciousness, which, I need to say, you don’t look have much. So, I talked with mister McNash and we put you into the clown squad for now, until we see if you have other good talents. We fill the show, you know: while people are readying the ring for the next number, we do your zaniness to attract audience’s attention. Let us see how you get on certain things and see how we could use you into our numbers.

Nicola agreed, while started to do as Pyg said:

- Run a little… Now a tumble… Somersault… Yeah, we’ll avoid this by now with you. - said Pyg, while giving a hand to Nicola, after him hitting the ground with his butt. - Run in the same place… Yeah, very good. Now, do as I’m doing. - said Pyg, while he started to walk with big, zany steps, very expanded arms, like a silly march. Then he gave some little jumps, making big expansive moves with the hands, and so on, until Pyg looks satisfied.

- Hum… Not that bad for a First of May… - said Pyg

- First of May?! But we are still at the beginning of March. - said Nicola

Pyg started to laugh, which made Nicola blushes, while Pyg took him to some old vanities full of pots and other things.

- First of May is how we call the newbies in the circus. This is because the biggest circus, like Ringling Bros, contract the artists by season, from May till somewhat November. So, everyone came to circus for the first time at First of May. Our circus is smaller, so we need to work more, just taking vacation between December and the beginning of February. - said Pyg, making Nicola sat into a little stool in front of one of those vanities.

- Alright… Now I have an idea on how to put you into the clown show. I’ll explain your role into that soon. But first, your makeup. - he said.

- Every clown needs to put makeup? - asked Nicola.

- Sure… But the makeup don’t hide our face, but, instead, emphasis our most funny expressions. Remember that, more than calling attention, our function is to make people laugh. First of all, I want you, just with your face, show me the feelings I ask you.

And Pyg started to say the feelings: happiness, angry, sadness, surprise… And then he did some goofy faces as Pyg asked for. Nicola liked it a lot, as it was very funny.

- OK, now I have on idea on your makeup. Now, observe how I’ll put it on you because, you being taken as part of the circus, you’ll have to do it by yourself. - said Pyg, sitting over Nicola’s lap, taking a clean cloth and using it to cleaning Nicola’s face to make him up.


Not that far from circus, a group of boys were looking for the other kids going back home.

No kid would get near those boys if they could: everyone knew that they were the worst kids in town, and no one wanted to mess with them. And as they where next a crossroad that get near the school, all the kids needed to take a bigger turn.

That was fun for them, although they looked around with a bored face, one of them smoking a, obviously stolen, cigarette:

- It’s a bore today. - said the fire-red haired boy, with a weaselly face - That brat was very funny: we could take the crap out of him and he never complained.

- You say this because you didn’t lived under the same roof of him, Colin. - said the smoking boy, with brown hair and green eyes - I was not standing that momma boy anymore. Thanks he ran away, although it would be funny to see my dad taking his skin out of him.

- But Josh, we have no more fun. He was the only one that took that way back from school. - said another boy, with black hair and mean eyes.

- Hey, I had an idea! - said Josh - Why not mess the things on the circus. They’re outsiders. We could do all the mess, that the city guys will be with us!

- Look like a big idea… But it would be even better if we do this at the matinee! They have lots of brats there on those shows! We could scare them! It would be a big laugh! - said the black haired hair.

- Yeah, Aaron. - said Josh - I think we can have lots of fun there!

And they started to talk their mean plans.

Obviously they knew the circus, but never by putting their money out of their pockets, because they robbed the tickets from other kids or simply crashed into the circus, as they’re all strong and swift enough to dodge the circus’ tough guys.

So they knew how to mess everything.


- Right… This is our main gig. Understood, Nicola? - said Pyg, while the other clowns got next Nicola, that sat over the ring curb.

Nicola was dressed into a navy blue sailor’s suit, complete with matching color hat and shorts, a baby pink woolly wig below the hat. He looked like a kid even younger than he was, one that just left diapers behind.

He would be one of the “little kids” that should jump from the “tower in flames” in the fire gig. In fact, the “tower” was a wood and cardboard structure with some bright paper standing by the flames.

- Understood… I’ll be the little cute scared kid, right?

- Yes. Not that different, right? - said one of the other clowns.

Everyone laughed, including Nicola, that shown the red blushed cheeks and the black painted in black, which made his “smile” getting big and very comic, his button of a nose now painted into bright red. His painted clown face only made him looking even more like a little angel, as he was even more baby-faced.

- I understood. Think I can do this. - said Nicola, while he got out the Big Top, using the funny walking Pyg taught him, which, although difficult at first, was the best way to walk with the double-sized shoes he was using.

- Alright, let us eat anything before readying ourselves for the afternoon show. - said Pyg


Mary opened the Tarot about Nicola for Frederick. When he opened the next-to-last card, she put his hand at mouth in horror.

- My God, why? - she said, looking the Tower drawing at the card, the Tower hit by a lighting bolt, people falling from the tower.

- Oh dear… This is not good… - said Frederick, with his calm mind

- Not good? This is terrible! What kind of Destiny could be waiting that boy? - said Mary, worried.

- Well, this can be the proof this kid can be the one we are searching for. The Club already knows about this? Maybe he should left the circus before the time and go to the Club chapter at Omaha, to start his training as a Spirit of the Century. - said Frederick, not aware of Mary’s worries. Then he looked to Mary and said, sympathetic - We still don’t know what the Destiny is reserving for the kid. And there’s still one card to be opened.

- Let us see… - said her, opening the last card, in the center of the cross of cards she placed in the desk.

When she turned the card, she saw a nude person, circled by a mandala of leaves, like the Laurels of the Olympic Champions, at the corners a guy, an eagle, a lion and a bull.

- My my… - said Frederick, smiling - I think we were excessively worried.

- The World! - said her - Never opened The World for the Future. A symbol of ascension, to get higher than ground, into the Heavens!

- So, we could let the hair down for a while… If his Destiny is to be a 20th Century Spirit, nothing will happen with him. Otherwise… Well, unfortunately we’ll not be able to do too much for him. - said Frederick, as the band started the music for the matinee - Anyway, let us see how our little clownie is going into his new life.


The show started very well, as very fast Nicola understood the clown entrances and his station on them. All the clowns looked to Nicola after each exit after the gigs were ready and noted his evolution.

- Crikey, Nicola! - said Pyg, behind the curtains that split the backstage and the ring with the other clowns, ready for the action if needed - I’m in the circus by more than 20 years and never see someone learn so fast the art of clowning. I’m really proud of you!

- Thanks, mister Pyg. - said Nicola, tired, heavily breathing by all the fast movements he need to do for all the clowning, being into all the baggy clothes and shoes that turned movements very difficult - I didn’t know this would be that all that hard.

- Codswallop! - said Pyg - You’re doing very well! Now, it’s time for our main gig. - he said, while the circus crew mounted the “tower in flames”, after Khan’s show.


Two of the kids had taken Roland and punched him unconscious, just a little before he could lock Khan the lion’s cage, after closing it.

- OK, the handler is down. - said Aaron - And now?

- Look for the entrance to the Big Top, Colin. As soon I opened the cage, hit him in the muzzle with a stone from the slingshot. This will make him mad. Get out the way as soon you do this, or he’ll attack you. We’ll give everyone a big scare when the lion get into the ring. Now it’s the clowns show, so no one will, at first, give a damn to us, so we could get away… It will be the time we could get out.! - said Josh.

- Alright! Let’s go! - said Colin

Josh opened the cage and Colin shot Khan with a stone.

Khan felt a pain in the muzzle: not enough to hurt him, but enough to get mad and make him run out the cage and to Colin, that noted, too late, that he could not win against a lion into running.

- Run, Colin! - said Josh, a little worried, a little entertained, as all this was like an rodeo.

After all, he was not the one being chased by a lion.


Nicola was in the top of the “tower in flames”, while Pyg, down the floor, dressed as a big momma, screamed like he was his “little boy”, cornered by the bright paper “flames” in the top of the tower. All that Nicola had to do by now was to feign be scared and do a fake crying, until the other clowns put the safe net so he could jump from the “building” safely.

It was when the band started to play Stars and Stripes Forever.

That rang a bell into his head, from something Pyg said when he asked about the circus, while he did his clown makeup.

- If, at any time in the show, you hear Stars and Stripes Forever, no matter what happens, stay calm. This is an alert music in the circus, so everyone can be aware that something very wrong is happening. Normally, in this case we do our clowning to help people get out the circus safely while others solve whatever happened… I remember hear it just one time, before one of those big twisters in Alabama. That was the kind of situation this music is played, and only on that kind of situation they play it at circus. Not without reason we call it The Disaster March.

And it was. They were playing The Disaster March!

In that moment, Nicola did as Pyg said: stayed calm and continued into his show, while the audience were evacuated by the circus crew. However, he was a little scared, as the “tower in flames” were small and relatively tall, with space just for the clowns that needed to be there. And he was the last one in the top of the “building”.

He stayed into the character, doing his show, but at the same time he tried by all means to find why they played the Disaster March.

It was when he saw, at the ring entrance, a kid running from Khan, that looked furious. He saw the other clowns below running for safety, and this left him a little scared, as he could not get down there.

However, as far he knew, lions couldn’t climb. So, in the top of the “tower in flames”, at least by the time he was safer than those in the ground.


Some moments before…

Frederick was the one who found the boys trying to run away after doing the mess. He used a little trick he learned with Francisco Lamarca, a.k.a. Gaucho, the late Spirit of Pampas, throwing some bolas to lace their feet.

- What you did? - said Frederick for the kids that tried to run away, while Mary came next the Big Top entrance.

- They knocked out Roland and freed Khan after turning him furious! - said Mary, still into the gypsy costume she used into the psychic tent, reading cards and Tarot for people.

- Run to the band and say them to play the Disaster March. Normally Khan don’t attack people, but we don’t know how he would behave when furious. We can’t put people at risk! - said Frederick, and Mary ran to do as he asked for.

It was when he took a deep breath and got himself “on character” as Don Cagliostro, to put that country bullies’ weak minds under his power, to discover their plans.

He did his best mentalist expression, the one he used only in the most serious moments, out of the shows, a menacing mask that could drive minds more powerful than those bullies’ into nightmare and even in madness and, looking straight into the bullies’ eyes, specially the green eyed one, unknowingly to him, Nicola’s former foster brother, he said, into the low, powerful tone he developed in a century as Don Cagliostro.

- Now… - he said, with that low, powerful tune, specially trained, leaving the dread getting into the boys’ mind, freezing their reactions and preparing them to the mentalist suggestion that he would apply - You are under my power. My mind put your feeble ones under my will. You have no free will. You will do everything I want, until I chose to free you. To begin, you’ll say me what, how and why you did.


Nicola saw Khan getting into the ring, chasing the boy, when the boy got behind the “tower in flames”. He thought he would have time to hide behind it, but Khan passed through it, destroying the paper and wood structure like watered down paper, taking the tower balance out.

Nicola still had the presence to hold some parts of the falling wood structure. This didn’t made him avoid the fall, although helped him to not be seriously hurt.

After some painful seconds, Nicola checked out himself by instinct, as always did after a beating. Just a sprained ankle, but nothing more serious. He started to get up, looking for a exit route that he could cover with the sprained leg.

It was when he saw one of the bullies from his foster brother’s gang, frozen like a deer with light pointed into his face. The lion was walking at small steps to him, ready for the final blow to sent the bully Down Below.

And, for the first time ever, Nicola was faced with a really life-and-death choice.

He could get out and survive, but no one could help the bully, that would be devoured before someone else could stop Khan.

However, if he called the Khan attention, he would be the one at death risk, although the bully being able to escape.

And, for some reason, Nicola didn’t thought too much for this:

- Hey, Khan! Over here! - Nicola shouts, the bully scared by recognized the voice of the kid he beated so much.


Moments before…

Frederick gave the boys to mister McNash, while Pyg tried to wake up Roland.

- Bloody hell, boys! - yelled McNash to the boys, totally out of temper, taking the announcer’s top hat and sending it to the ground - Where you were in mind to release a bloody lion and, worse, make him mad, at the ring? What kind of fun you thought you could take from all this?

- We just… - Josh was about to say, stuttering, when one of the clowns came to them.

- Sir, we have a problem! Khan had send the “tower in flames” down when that other boy tried to hide into its back. Nicola had fell and now he’s facing Khan! - said him

McNash had gone very worried: a boy being devoured by a lion would be a tragedy!!!

- Pyg, go on trying to wake Roland up. We need him back awake to tame Khan back to calmness! There’s no chance that Nicola could stop Khan, even more now that he’s furious. I’ll go there to see what I can do. Fred, come with me. You, - said McNash to the clown - run and call the police. And you two… - said McNash to the bullies, out of rage - I swear by God, mark my words: if anything happens with this circus… If any tragedy closes down this Big Top, its fabric will be your coffin!


Josh’s mind normally were not used to much, but now it was dry as Grand Canyon and as frozen as Hell.

First of all, by looking to Don Cagliostro’s terrible eyes, that opened his mind as if his skull was a popcap and that eyes were the cap opener. He felt himself out of will as he never was…

And now, he heard Nicola was trying to face that lion.

What kind of world was that Nicola was getting into?


Khan turned back to the kid that shouted.

When Khan did that, Nicola started to froze over fear, while feeling the, somewhat justified, rage in Khan.

However, in his mind, came the very same little voice that always came on that kind of events, when he was worried, scared or so:

“Everything ends well… If it’s not well, it’s not over yet.”

He tried to calm down a little, his heartbeat getting normal. So, he remembered what Roland said:

Two important words while dealing with animals: Respect and Safeness. Old Khan here is as good as a kitten, but this is no reason to let the guard down.

He breathed a little and looked with very respect to Khan.

- Khan, I think you remember me when I helped give you your breakfast today morning. I’m Nicola. Hope you liked it - he said, don’t understanding why he was trying to talk with a lion.

Khan still walked slowly, when McNash and Frederick get into the Big Top, now empty, besides Khan, Nicola and the bully. The situation was too much weird to them, seeing the bully fear locked in the ground, although Khan was going to Nicola, that looked calm, or so much terrified he could not show.

- I know what you’re feeling: they are bad guys. I know that. They were very mean with me. But you don’t need to be mean with them. I’m sure they’ll never do anything mean again. At least not that one. He had take the lesson. - said Nicola.

Khan looked not amused, still walking to Nicola, that started to show fear.

- Look, I don’t want anyone to be hurt, right? Neither him, nor you and even more me. It was scary to hear the Disaster March from the top of the “tower in flames”… And when I saw you running to get this kid, I could left him to you. It would not be my problem, because he did many mean things before… But I don’t want anyone hurt, and I think you don’t want it also. - said Nicola, a little horrified, when he noted Khan was near enough him to simply get his paw up and using it to open him like someone peels an orange.

And Khan just expired to Nicola, and licked his face, like a little kitten, messing it into lion’s gob and undone clown makeup, still in front of Nicola, his face more calm. Nicola giggled a little, looking Khan, mixed feeling of happiness, scaring and relief.

It was when Roland came and put a collar over Khan’s neck with care, without taking the whip from his animal handler costume, that was more an ornament than anything:

- OK, Khan… Calm down, boy. It’s over. Let’s go back home. We’ll deal with those kids. They’ll have what they deserve. - said Roland, taking the Lion back to his home at circus.

Mary ran to Nicola and put him into a very motherly hug, that remembered him his mother.

- Nicola… What you had in mind, to face a furious Khan? - said Mary. - You were very brave… Had no fear to face Khan?

- In fact… - said him, now shaking like a leaf - I had a lot! But that times I feel that everything will end well. If is not well, it’s not over yet. - said Nicola, surprising the others’ with sage beyond the age.

- Crikey, Nicola, you had a courage worth of a Spirit of Optimism. - said Frederick

- Spirit of Optimism? - said Nicola, while the city’s police took the bullies

- Let’s say that you’re very special, Nicola. You was born in January 1st, and, now in 1912, you’re 12, right? - said Frederick

- Yes… This. They said me I was born still under the bells tolling the new century.

- Exactly this! This means you’re somewhat special… But first, let us clean all this Khan’s gob from your face and then we’ll talk. - said Frederick, taking Nicola out from the ring to a new life.


The next days were very weird and intense for Nicola:

His former foster brother was sent to the police, and there he saw his former foster father. Nicola talked all about him, but exchanged the idea of putting him in jail by exchanging his fostering, now Frederick being his foster father under the law. And his former foster brother was put to work in the town medical center.

Frederick taught Nicola everything he could about the ages-long conflict between Spirits and Shadows of each Century. And Nicola understood his station on this as the Spirit of Optimism, that was show for everyone exactly what got into his head when he faced Khan: “Everything ends well… If it’s not well, it’s not over yet.”

The circus chosed to left the town, before other bully had any dangerous idea. In the parade before leaving the city, Nicola was cheered by many people, some of them, in fact, that beated him some days before as a weird kid.

In a quick stop of the circus at Omaha, Frederick presented him to the Century Club, but made clear that he would be Nicola’s Mentor, working for the Club from the Circus. So, that received voluminous investments to include loads of new equipments, including a, still uncommon, fireproof Big Top and a portable telegraph.

And that was how the history of Nicola Castrogiovanni, Spirit of Optimism, began.

A history that surely would end well.

After all: If it’s not well, it’s not over yet.

O Espírito do Otimismo

Por Fábio Emilio Costa

A lua alcançava o ponto mais alto no céu, enquanto as últimas luzes dos lampiões a gás do McNash & Sullivan Circus and Shows se apagavam. Apenas algumas velas dentro das barracas e carroças do circo estavam acesas.

Em uma delas, um senhor de rosto envelhecido, ainda que muito vigoroso, observava o pêndulo que segurava sobre o mapa dos Estados Unidos. Seu fraque e cartola, que usava em suas apresentações, estavam sobre um baú com todos os pertences que tinha.

Os olhos fixaram-se em um ponto qualquer, onde o pêndulo parou, por meio de poderes além da compreensão de pessoas comuns. Mas esse senhor não era e nunca foi uma pessoa comum. Ele tinha uma missão:

- Ongelooflike! Inacreditável! Tão perto, e ao mesmo tempo tão longe! - disse ele, deixando escapar uma palavra em um idioma pouco conhecido na América e que a muito ele não usava, o afrikaans, o idioma dos boeres, os fazendeiros que foram à África do Sul e, enfrentando uma série de adversidades e adversários, tanto dos povos nativos como os Xhosa e os Zulu, como dos ingleses e portugueses, dominaram aquela terra.

Ele viu muitas conquistas durante o século anterior, quando entrou para o Clube do Século, um grupo que visa o crescimento da humanidade.

Como um artista e conhecedor de muitas coisas, obviamente ele tornou-se o Espírito dos Estudos, procurando demonstrar que existem muitas coisas que uma pessoa pode fazer e que a excelência na educação permite você a fazer tudo.

Mesmo ser um charlatão honesto, um Munchausen do seu tempo, assumindo a alcunha de Don Cagliostro, Senhor do Mesmerismo, da Hipnose e do Mentalismo.

O que é muito curioso, sendo que sua função é mostrar que o conhecimento deveria sobrepujar coisas como o charlatanismo e o misticismo (dos quais ele acaba dependendo).

Na realidade, Frederick Van Der Merwe nasceu no dia 1° de Janeiro do Ano de Nosso Senhor de 1800, a virada do século XVIII ao XIX, na Cidade do Cabo, onde seu pai era um diplomata dos Boer e a sua mãe uma atriz inglesa. Com o tempo, acabaram se vendo em uma situação em que era melhor fugir de sua terra natal e viajar para a França Napoleônica, onde tornaram-se artistas.

Mesmo pequeno, com menos de cinco anos, já sabia ler, escrever e tinha bom conhecimento em música, matemática e retórica, sendo tutelado em casa por seus pais, Andraas e Melody. Aos 10 anos já atuava nas comédias e dramas encenadas por seus pais, quando começou a formar seu alter-ego de Don Cagliostro.

Durante todo o século XIX, a partir do momento em que alcançou os 18 anos, ele não envelheceu nada, e pode presenciar e estimular uma série de eventos, inclusive a viagem de Charles Darwin no Beagle (ao menos indiretamente) e o lançamento por Karl Marx de Das Kapital (uma reflexão que acabou assumindo, para sua infelicidade, um papel panfletário).

Ele também enfrentou grandes inimigos, incluindo o perigoso e virtualmente imortal Doutor Matusalém, dono de poderes autodenominados matemágicos, supostamente tomados de Sócrates e dos Hipocráticos.

Mas suas façanhas são coisa do passado: como todos os demais Espíritos, como o Fantasma Cinzento e outros heróis do passado, ele sabia que logo o Tempo cobraria seu preço.

A partir do dia 1° de Janeiro de 1900, uma nova geração de Espíritos (e de suas contra-parte, as Sombras) surgiram, representando as ambições e esperanças do novo século (e os esqueletos deixados no armário no século anterior). E a partir de então, ele, e os Espíritos do Século anterior passaram a deixar esse mundo. Sua última missão seria encontrar, com a ajuda do Clube do Século, um desses Espíritos.

Essa era a única explicação para ele abandonar sua antiga função como arquivista e documentarista do Clube e voltar ao campo, mesmo depois de sustentar ferimentos terríveis de sua última batalha, contra a Sombra da Indústria.

Analisando os recentes eventos envolvendo trabalhadores sendo espancados e mortos por patrões, foi uma Vitória de Pirro a derrota de Leonard Charlesmagne.

O método que aprendeu era simples e um tanto impreciso, o que lhe gerava frustração, mas aparentemente dessa vez ele estava certo: durante a apresentação da matinê ele percebeu uma leve presença estranha. Não as poderosas e malignas emissões de Kult-ah-saleh, a antiga Sombra do Místico que dominou Paris por meio de hipnose e antigas práticas mágicas egípcias, perdidas desde tempos longínquos. Mas uma presença leve e, porque não dizer, acalentadora.

Frederick sai de seu transe e decide que não adianta nada pensar nisso agora: é melhor deixar para o dia seguinte, pois o cansaço enorme que sente está pedindo um pouco de sono. Curiosamente, nunca sentia muito sono durante o século XIX.

- Acho que logo chegará meu dia. Espero antes cumprir minha tarefa.

Ele resolve se trocar e apagar a luz do lampião, a luz da lua lhe bastando para ir à cama.


- E isso é para aprender a deixar de ser mentiroso. - grita o homem, enquanto desce a cintada nas costas do menino rechonchudo, golpeando-o com toda a força que tem. O garoto não reage e nem grita, apesar das lágrimas que caem do rosto.

Curiosamente, os cabelos levemente avermelhados do garoto até conseguiriam enganar, mas de outra forma ele não parece em nada com o homem que lhe bate. Afinal de contas, Nicola Castrogiovanni é um órfão.

Nicola não se lembra de nada da Toscana, onde seus pais viveram e onde ele nasceu, e lembra-se muito pouco do rosto de seus pais, embora lembre-se em especial do rosto bonito de sua mãe, deitada no caixão no qual ela passou a dormir até o dia do Retorno de Jesus, quando ela voltará a viver.

Essas lembranças continuamente o alimentam com esperança, mesmo após ser trocado de lar adotivo para lar adotivo, muitos deles mais interessados nos benefícios do governo para cuidar dele ou em ter mais uma mão para ajudar no trabalho, nenhum deles o querendo por carinho ou por gostarem dele.

Ele nunca entendeu porque as pessoas não gostavam dele, mesmo sendo bem educado e fazendo as coisas direitinho. Ele sempre se perguntou porque as pessoas achavam ele chato ou bobo. Ele apenas acreditava que tudo acabaria bem, então não era acostumado a reclamar ou negar-se a fazer qualquer coisa.

Mesmo depois de apanhar tanto.

Mesmo sabendo que estava apanhando pelo seu irmão adotivo, um grande valentão sem coragem.

E mesmo sabendo que isso vai lhe custar passar a noite no estábulo.

Mas tudo bem: ao menos o feno é quente e os animais gostam dele.

Antes de sair da casa, sua mãe adotiva, talvez a única que goste um pouquinho dele, entrega-lhe um embrulho, que normalmente era o sinal de que ele deveria passar a norte no estábulo.

- Nicola, o John vai estar melhor amanhã. E quem sabe tudo não se resolva. - ela diz. Ele percebe que o volume está um pouco maior que o normal: normalmente ela apenas embrulha apenas um pijama velho que ele usa no estábulo.

Nicola decide não questionar e sai de casa. De qualquer modo, valeu a pena.

A Srta. Prescott lhe deu um par de ingressos para o circo por ter ido bem na lição de soletrar. Seu irmão roubou os ingressos, mas ele acabou conseguindo um outro graças a um dos homens do circo, que pediu ajuda na divulgação. Como Nicola já vendia os jornais da cidade, nada mais fácil que enfiar os panfletos dentro dos jornais para ajudar a divulgar o circo.

Acabou que o circo estava lotado, mas ele conseguiu ainda um bom lugar para ver tudo, inclusive os truques de Mentalismo, que o fascinava. Aquele homem altivo, Don Cagliostro, lhe parecia tão poderoso e confiante que o fascinou. Havia algo nele que desejava ser tão poderoso e altivo quanto Don Cagliostro.

Por fim, quando chegou tarde em casa, seu pai adotivo achou que ele ficou com o dinheiro dos jornais para comprar o ingresso e gastar no circo. Quando ele contou a história toda, ele foi acusado de mentiroso e então começou a surra.

Quando Nicola chega ao estábulo e abre o pacote, há uma carta nele:

Por favor, Nicola, fuja! Meu marido quer lhe matar e ocultar seu corpo! Esqueça que existimos e desapareça! Não quero que algo ruim aconteça com você, mas não quero que nada aconteça por sua causa! Estou colocando algumas coisas úteis para você. Fuja enquanto ainda tem chance!

Nicola olha assustado, pensando se era verdade isso. Então ele olha o resto do pacote: dentro do embrulho tem uma pequena sacola de couro com seus livros da escola e roupas, além de alguns papéis que ele sabe que são seus papéis de adoção e seus documentos.

Ela estava lhe oferecendo, de certa maneira, a liberdade!

Nicola, apesar de dolorido pelas cintadas, olha com um ânimo maior. Ele dá a volta por trás do estábulo, atravessa pelo lado o chiqueiro e caminha pela plantação de trigo até chegar na estrada que leva à cidade.

Nicola olha para ambas as direções na estrada. Ele sabe que pode tentar ir de volta ao orfanato, mas provavelmente isso significará ser mandado de volta à essa casa onde ninguém gosta dele e, onde parece, ele estará risco de morrer. E a cidade mais próxima fica a muitas milhas, certamente mais do que um dia de caminhada. A estação de trem está fechada agora, e com certeza ir à polícia não vai adiantar.

Então lhe ocorre ir ao circo. Na pior das hipóteses, ele fugirá com o circo. Na melhor, irá até alguma cidade maior onde tentará a sorte. Afinal de contas, já tem 10 anos: se já consegue vender jornais, deve ter algo que seja capaz de fazer na cidade.

Ele caminha durante algumas horas no meio da escuridão da estrada, tomando cuidado com os caminhos mais escuros: cobras e outros animais selvagens podem ser muito sorrateiros. Nicola já ouvira histórias mais do que suficiente de jovens que, fugindo de casa, acabaram sendo atacados por animais selvagens e encontrados mortos, as tripas sendo disputadas por abutres famintos. Então ele caminhou com calma pelo caminho.

Por fim, ele consegue chegar ao circo, que é um pouco assustador com todas as luzes apagadas, a escuridão dando um ar tétrico às tendas e carroças do mesmo. Ele observa todos os animais dormindo, procurando um local onde possa encostar o corpo. Ele acha uma árvore onde ele se encosta e o cansaço (aumentado pela dor das cintadas) faz com que ele apague em um sono profundo tão logo coloque o embrulho com suas roupas abaixo de sua cabeça com travesseiro.


- Ei, garoto! Não deveria estar na escola? - Nicola escuta, enquanto sente alguém o cutucando.

Ele vai se espreguiçando e abre o olho, ao ver uma pessoa bem baixa, quase do seu tamanho, o cutucando. Ela está sorrindo, apesar de estar com o nariz meio torcido por algum motivo. Quando ele acorda o bastante para sentir cheiros, ele percebe que o motivo do nariz torcido: por algum motivo ele está bem fedido!

- Puxa, você devia estar realmente morto de sono, ao ponto de não perceber que deitou perto do ninho de uma mamãe gambá. É melhor sair daí antes que ela te dê mais uma borrifada fedida. - diz a pessoa pequena, com uma voz um pouco esganiçada.

Nicola percebe que a pessoa falando com ele é um anão: ele parece bastante com uma pessoa adulta, mas bem pequena. O sorriso é bacana, e ele veste algumas roupas bem práticas: uma camisa de algodão e calças com suspensórios, um chapéu de brim bem velho e sapatos quase tão velhos. O cabelo dele é escuro e os olhos são castanhos como o de uma castanha.

- Parece que viajou muito. A Mary vai te arranjar um banho e um bom mingau para forrar o bucho. Claro que você vai pagar, certo? - ele diz.

- Não tenho dinheiro, senhor…

- Pode me chamar de Pyg. Meu pai teve a ideia de me chamar de Pygmalion, então todo mundo aqui no circo me conhece como Pyg. - ele responde.

- Eu sou Castrogiovanni, senhor. Nicola Castrogiovanni. Eu fugi de casa. Não tenho nenhum dinheiro, portanto não posso pagar com ele, mas se for o caso, posso trabalhar para pagar. Sou bom em arrumar coisas e tal.

- Espera um pouquinho: acho que lembro de você. Você foi o garoto que ganhou o ingresso distribuindo panfletos dentro dos jornais. - disse Pyg

- Sim… - diz Nicola, enquanto Pyg o leva até o circo, onde as pessoas começam a olhar estranho para Nicola. Obviamente, quando você está fedendo a gambá as pessoas o estranham.

É quando Pyg o leva até uma mulher bastante bonita, com um tanto de sangue Romani nas veias (pelo que Nicola pode perceber), e lhe conta sua história. Então ele percebe que tem algo errado, pelo olhar de horror que ela faz.

- Menino, acho que pode ser que doa um pouco, mas você precisa tirar essa camisa e precisa tirar ela . E não apenas pela borrifada da mamãe gambá! - diz a mulher - Meu nome é Mary, e sou a vidente do circo. Além de cuidar da alimentação dos artistas e trabalhadores, entre outras coisas.

Ela puxa a camisa de Nicola, que sente uma boa dor.

- Puxa vida! Se essa era a vida que te davam em casa, você está mais que certo em fugir! - ela diz, mostrando-lhe as costas por meio de espelhos.

Nicola estava acostumado aos vergões nas costas, formados pelas várias vezes em que apanhou de seu pai adotivo, mas a mais recente tinha sido muito funda, então o sangue coagulou na roupa sem Nicola perceber, e a camisa teve que ser arrancada com carne viva e tudo. O sangue voltou a pingar um pouco, até que Mary passou um pouco de tintura de iodo, fazendo Nicola gemer um pouco.

- Ok, garoto, a maior parte do cheiro do gambá estava naquela camisa. Agora, vá tomar um banho e use esse sabão aqui. - ela entrega uma barra de sabão de cinzas para Nicola - Esfregue bem as costas e volte aqui para curarmos essas feridas. Enquanto isso, vou ver se tem alguma roupa aqui no circo que te sirva.

- Eu tenho roupas aqui na minha mochila. - disse Nicola

- Eu sei que tem, garoto. - disse Mary - Mas primeiro temos que ver se a mamãe gambá que te perfumou deixou alguma roupa sua perfumada. Sabe que não dá para tirar facilmente esse perfume das roupas, certo? Depois vamos falar com o dono do circo para ver como você pode ajudar.

Nicola fez que sim com a cabeça e se dirigiu a um pequeno local fora da tenda onde poderia tomar um banho, levado por Pyg.

Enquanto isso, Mary foi em outra direção.


Como de costume, Frederick estava levantado, treinando um pouco das suas expressões para os truques de Mentalismo antes de ir tomar seu café da manhã.

Boa parte da arte de sujeitar as mentes mais fracas, ele sabia, envolvia utilizar-se de expressões ameaçadoras, que instintivamente travavam o ser humano. Esse tipo de expressão era decisiva na hora de enfraquecer a vontade do outro, preparando o caminho para seguir adiante com o truque de mentalismo ao deixá-la mais aberta à sugestão mental.

Ele faz uma expressão ameaçadora, quando ouve alguém chamá-lo à porta:

- Fred, é a Mary!

Frederick sabe que Mary está ali: muito poucas pessoas, mesmo no Clube do Século, o chamariam de Fred. No circo, apenas Mary o chama assim. Os demais costumam o chamar de Frederick ou, quando dentro da Grande Tenda, Don Cagliostro.

- Só um minuto. - ele diz.

Mary Alethea, como se autodenomina, é uma das patrocinadoras do Clube, nascida no dia 1° de Janeiro de uma década, que não a virada do século. No caso, ela nasceu em 1° de Janeiro de 1870. Sendo uma das patrocinadoras, é ela quem ajuda os Centuriões, ou Espíritos do Século Passado, encontrar os novos Espíritos e os encaminhar ao Clube para treinamento.

Mary conheceu Frederick quando sua família fugiu da Prússia para a América e a mesma foi protegida por Frederick. Quando “acabou o prazo” de Frederick e ele começou a envelhecer, foi Mary quem convenceu-o a procurar um Espírito para treinar como legado.

- O que foi… - ele diz, enquanto Mary entrava na carroça.

- Fred, acho que encontrei o garoto que procurávamos. Ele veio até o circo. - disse Mary

- Tem certeza? Viu algum documento? Sabe que as certidões de nascimento não são muito confiáveis. - disse Frederick

- Não vi os documentos, mas… Olha só… O garoto dormiu encostado naquela árvore onde tem uma gambá com filhotes, sabe. - ela disse, e ele fez que sim com a cabeça - Sabe como aquela mamãe gambá é durona, ainda mais agora que está com filhotes. Pois bem, ela deu um “presentinho” para esse garoto, dando uma borrifada bem feia nele, mas sem nenhuma agressão. Nada de tentar morder ou qualquer coisa do gênero. Além disso… Eu percebi umas cicatrizes e machucados nas costas dele de cintadas. Lembra do que lhe falei sobre o Espírito do Século XX que procurávamos?

- Sim: Chagas não merecidas.

- Isso. Olha só: eu não imagino um garotinho como aquele, quase um anjo na terra, merecendo ficar com as costas marcadas daquele jeito. Ele foi muito machucado e ainda assim suportou, e pelo que entendi, sem reclamar. E ele não parece se abalar com nada: mesmo cheirando a gambá ele estava muito tranquilo, quase como se soubesse que iríamos o ajudar.

- Será que ele apenas não é um desses garotos anjinhos que andam por aí? Tem muitos desses órfãos abandonados por suas famílias nesse país. - disse Frederick

- Pode ser… Mas… Olha só: você sabe do meu Olho Divinatório, né? - diz Mary, e Frederick confirma: a heterocromia dos olhos de Mary não era apenas um traço genético, mas carregava pequenos poderes místicos, verdadeiros até uma certa escala. - Então: eu não consegui tirar meus olhos dele… É como… É como se ele pedisse um colo. Não sei explicar.

Frederick percebe que a coisa pode ser séria: um Dom de um Espírito do Século pode realmente explicar esse gatilho maternal que Mary sofreu.

- Compreendo. Bem, vamos fazer de conta que não tem nada ocorrendo. Na pior das hipóteses, pelo que você está me dizendo, esse garoto não é mal, mesmo não seja aquele a quem procuramos. Portanto ele não fará mal ao circo. Podemos o ajudar e depois continuar nossa busca com calma. - diz Frederick - E onde ele está agora?

- Tomando um banho, coitado. Deve ter sido realmente linchado para ter apagado a tal ponto de não ter reparado, no meio do sono, que levou uma borrifada de uma gambá. O cheiro de um gambá é tão ruim que faria uma pessoa acordar na hora, para fugir igual maluco. - diz Mary.

- Muito bem: verei o tal garoto no café. Acho que ele já deve estar saindo do banho agora. Vá lá cuidar dele. Me encontrarei logo com você. - diz Frederick


Nicola percebeu o quanto realmente estava machucado quando esfregou as costas com o sabão de cinzas. O cheiro dele era leve, mas o efeito era óbvio, a queimação nas costas indicando a desinfecção de suas feridas.

Rapidamente ele terminou seu banho e vestiu apenas a cueca e as calças, não tendo mais nada para vestir, e retornou até a tenda de Mary. Ela então verificou se ele estava bem limpo.

- Agora está bem melhor. - disse Mary, aprovando o estado de limpeza de Nicola, enquanto passava novamente tintura de iodo e arnica nos ferimentos de Nicola, o que o fez gemer um pouco. - Arrumei uma camisa que deve dar por hoje. E isso aqui acho que é seu, né?

Ela mostra para Nicola um escapulário de Nossa Senhora do Carmo e uma boina em tecido xadrez vermelho e preto.

- Aparentemente nem a mamãe gambá teve coragem de deixar seu perfume nisso… Deve ser algo realmente muito, mas muito importante. - comentou Mary, enquanto Nicola pegava os mesmos com muito carinho.

- Sim… São as únicas coisas que tenho dos meus pais. - Nicola disse

- Imaginei. E aqui está a sua mochila com os documentos que estavam nela. - disse Mary - Pode ficar à vontade para checar.

- Não preciso. Eu sei que você seria incapaz de roubar esses documentos. - disse Nicola

- Já lhe disseram que você é bem bonzinho? E para nunca confiar em ciganos? - disse Mary

- Já… Mas sabe… Nunca soube explicar, mas não consigo desconfiar das pessoas.

Mary sorri:

- É bom ver alguém tratando a gente de maneira decente, para variar. - disse Mary, enquanto Nicola colocava a camisa simples de algodão, um pouco maior que ele, mesmo ele sendo um garotinho bem roliço - Desculpe a roupa folgada, mas foi a menor que consegui encontrar com os outros, e vai ter que servir até conseguirmos lavar aquelas suas roupas e tirar o cheiro de gambá delas. A que você estava usando infelizmente vamos ter que jogar fora: o sangue e a borrifada de gambá acabaram estragando-a.

Nicola meneia a cabeça

- Tudo bem.

- Agora vou levar você até a tenda da comida: acho que hoje o Franck deve ter feito panquecas. Franck é nosso homem-forte. Apesar de forte como um touro, ele sabe ser delicado quando precisa. Além disso, é um excelente cozinheiro: podemos trazer qualquer gororoba e ele a transforma em uma comida dos deuses. Obviamente, a fome dá uma temperada a mais na comida. - diz Mary, ao ouvir o estômago de Nicola roncar.

Nicola caminha até a tenda, enquanto vê todos os artistas andando pelo fundo do circo: alguns estão treinando seus números, outros arrumando detalhes de suas roupas ou equipamentos, outros dando comida para os animais, alguns conversando entre si.

Curioso é que, onde muitos veriam apenas um conjunto de pessoas estranhas, ele via um ar familiar: mesmo quando via o anão conversar com alguém do freak show, todos pareciam gostar uns dos outros, como uma família, algo que, Nicola jamais admitiria, ele sentia muita falta e desejava mais que todo o ouro do mundo.

Ao entrar na tenda de comida, ele sente o cheiro de mingau, pão tostado na manteiga, ovos e bacon, e panquecas. Ele olhou tudo com fome nos olhos e felicidade estampada no rosto, enquanto via um homem enorme, com músculos quase do seu tamanho, virando as grossas e douradas panquecas com movimentos ágeis e precisos incompatíveis com os braços poderosos do mesmo.

- Franck, esse aqui é o Nicola, e ele fugiu de casa e veio parar aqui no circo. Disse que hoje pode ajudar a gente, mas sabe como é, saco vazio não para em pé. Dá para ajeitar algo para ele? E para mim, o de sempre. - disse Mary.

- Oui, mademoiselle Mary. Mas o senhor McNash está sabendo que você trouxe outro garoto sem lar? - disse Franck

- Deixa que eu me entendo com o senhor McNash depois, Franck. Esse rapazinho apanhou bastante por aí e, para ajudar, dormiu debaixo daquela árvore da mamãe gambá. Acho que ele precisa de algo para o animar de volta. - disse Mary.

- Oui! - disse Franck, colocando algumas panquecas e um ovo em um prato. Em seguida pegou um copo de leite e colocou um pouco de mel no mesmo e passou tudo para Nicola, enquanto fazia um prato de ovos com bacon e café preto para Mary.

Nicola sentou-se e começou a comer, enquanto observava as pessoas entrando naquele refeitório improvisado. Foi quando ele viu o homem que o fascinara na noite anterior, com os cabelos grisalhos bem penteados, bigode preto lustroso e cavanhaque: Don Cagliostro!

- Franck, vou querer só umas torradas e café hoje, por favor. - disse Don Cagliostro, e Nicola percebeu que, apesar da visão intimidadora, mesmo sem a cartola e o fraque dos shows, a voz dele parecia confortante, bem diferente da voz soturna e dura do show.

Nicola ficou bobo ao ver Don Cagliostro dirigindo-se à mesa onde ele estava, com um prato de torradas amanteigadas e uma caneca de café bem escuro. Ele ficou ainda mais abestalhado ao ver Don Cagliostro sentando-se na mesma mesa.


- Olá, Mary! - disse Frederick, fazendo-se de inocente. Ele observou o garotinho de cabelos levemente avermelhados à sua esquerda, enquanto este o olhava como se visse o Papai Noel. “Realmente ele é tão inocente quanto Mary afirmou”, pensa Frederick, e ele sente uma leve presença, reconfortante e cálida, quando pergunta, como quem não quer nada. - E quem é esse garoto?

- O Pyg trouxe ele para mim. Ele tava dormindo na árvore da mamãe gambá e, bem, ela o marcou bem marcado. Ele tava bem fedido na hora que ele chegou. Mas agora tá limpinho como um anjo. Depois vou conversar com o Senhor McNash e ver se ele pode ficar conosco um dia ou dois, pelo menos até ele ficar bem longe daqui. - diz Mary. - Parece que ninguém o quer nessa cidade. O coitadinho apanhou bastante.

Nicola enrubesceu à menção dos ferimentos às suas costas: normalmente ele não reclama de nada, preferindo guardar suas forças para fazer algo que seja possível contra aquilo. Se não for… Bem, c’ést la viè, como diria Madame Le Pen da aula de francês da escola.

- Meu nome é Frederick Van Der Merwe. E o seu? - disse Frederick, enquanto Nicola o olha assustado por aquele artista maravilhoso lhe dirigir a palavra.

- Meu nome é Nicola Castrogiovanni, senhor… Mas achava que o senhor fosse o Don Cagliostro. - disse Nicola, quando ele conseguiu falar. Frederick riu com gosto.

- Então, pelo jeito você gostou dos meus truques e do meu número. - disse Frederick, tomando um pouco de café, observando as reações de Nicola - Don Cagliostro é o nome que assumo no show. Mas aqui sou conhecido como Frederick por todos. Quem sabe você não ganha um nome próprio durante o show, caso fique aqui conosco? Mas, mudando de assunto, por que fugiu de casa?

Nicola fica um pouco em silêncio: ele não quer contar que seu pai adotivo queria o matar e que, para impedir uma tragédia maior, sua mãe adotiva o expulsou de casa. Mas achou que não poderia escapar ileso em contar os seus motivos, então decidiu apenas omitir um pouco da verdade.

- Sabe, meu pai adotivo não gostava muito de mim, e deixava que meu irmão me maltratasse. Além disso, ele me batia muito. Então, ontem à noite fui mandado para os estábulos por algo que na verdade foi meu irmão quem fez. Minha mãe adotiva me deu tudo o que precisava para fugir antes de me mandar para o estábulo. Ela tinha medo que, cedo ou tarde, meu pai adotivo me batesse até eu morrer. Então, eu fugi. Aí deitei debaixo daquela árvore, sem saber que tinha uma mamãe gambá lá. E acordei com o Senhor Pyg me avisando que eu estava fedido de gambá. - diz Nicola, ao mesmo tempo tirando a questão da possibilidade de ser morto e dando uma enfeitada, como se tivesse vivido uma grande aventura.

Frederick o olha com um dos olhares especialmente treinados que ele fazia para executar os truques de mesmerismo, tentando ver se ele estava mentindo, tentando o assustar, e conseguir um caminho para usar seus truques de mesmerismo para obter a verdade caso assim fosse. Entretanto, Nicola o olhava com o mesmo olhar inocente que tinha desde o início, sem se deixar abalar pelos olhares mesmerísticos.

“Os Olhos nunca mentem, é a primeira regra do Clube do Século. pensa Frederick, enquanto relaxa o rosto: se não for o Espírito que está procurando, ao menos não é uma Sombra, pelo menos até onde ele percebeu.

- Bem, então eles realmente não sabem o que fazem, né? Machucar um anjo como você? Você parece um garotinho realmente muito bom. - disse Frederick, sorrindo - Agora, termine seu café, e vejamos como você poderá pagar por tudo isso. Sabe que nada é de graça nessa vida. Eu sei que provavelmente não tem dinheiro, mas sempre precisamos de ajuda para organizar tudo até a hora do espetáculo.

- Será que poderei participar do show? - disse Nicola, esperançoso, já que não tem mais nada a perder.

- Isso iremos ver. - disse Frederick, sorrindo - De qualquer forma, é importante vermos o Senhor McNash. Ele não gosta de come-e-dormes aqui, e muito menos de clandestinos. Mas veremos o que podemos fazer por você.


O Senhor Alvin McNash era dono do McNash & Sullivan Circus and Shows por tradição de família: seu pai foi o dono do circo e o mestre de picadeiro antes dele, e o pai dele antes dele.

E uma coisa que McNash não admitia era coisas fora do lugar. Ele demonstrava isso ao nunca, jamais ser visto vestindo outra roupa que o fraque de cerimônia do mestre do picadeiro, seja dentro ou fora dele.

Além disso, ele sempre fazia de tudo para estar apresentável, não importasse o tempo, a temperatura ou qualquer circunstância.

- Sr. McNash, é o Frederick. Tem um minuto? - diz Frederick fora da carroça do mesmo.

- Só um instante. - diz McNash, enquanto ajeita o fraque.

Ao abrir a porta da carroça, ele vê Frederick com Mary e Nicola. Ele suspira e diz

- Outro garoto órfão, Frederick?

- Senhor, o Pyg encontrou esse garotinho deitado diante da árvore da mamãe gambá, dormindo mesmo depois de tomar uma bela borrifada da mesma. Mary deu um banho nele e ele comeu algumas panquecas que o Franck fez. Na realidade, o Nicola aqui já deixou claro que está disposto a trabalhar para pagar pela comida que comer. Acho que podemos colocar ele para trabalhar sem problemas. Ele não parece ser do tipo que nega trabalho.

- Hummm… - diz McNash. Os outros órfãos ocasionalmente recolhidos pelo circo eram um bando de come-e-dorme. Mas por algum motivo esse garoto parece diferente para McNash: ele parece ter vigor e vontade de trabalhar, o que os demais não tinham, e tem um olhar bastante diferente, esperançoso. Parece que esse é um garoto realmente diferente.

- Está bem: mande ele para ajudar o Pyg e o Roland com os animais. - disse McNash - Depois disso, vamos ver se tem algo que ele possa fazer na lona, nem que seja vender pipoca ou amendoim. Espero que você se comporte e faça seu trabalho direitinho. - disse McNash, voltando-se para Nicola, com um olhar sério, severo, mas de certa forma doce e acalentador.

- Sim, senhor. Prometo fazer tudo bem direitinho, e aprender a fazer o serviço logo. - disse Nicola, com convicção.

- Ótimo… Gosto da sua Atitude. Então, vamos lá! - disse McNash, acompanhando Frederick e Mary para levar Nicola para seu serviço.


Roland MacIntyre, descendente de Escoceses, tinha um corpo baixo e forte, quase tão forte quanto Franck, e herdou do pai a profissão de domador de animais.

Diferentemente da maioria, entretanto, ele procurava demonstrar que o respeito aos animais era o caminho para fazer eles fazerem o que ele pedia, sem precisar apelar excessivamente ao chicote ou à violência.

Nesse momento ele estava cuidando de Eliah, a enorme elefanta que era o animal mais importante do circo, com a ajuda de Pyg, quando McNash, Frederick, Mary e Nicola se aproximam:

- Olha só, é o garoto da árvore. - disse Pyg, sorrindo, enquanto esfregava o lado de Elian com uma vassoura molhada em sabão - O Sr. McNash aprovou ele aqui?

- Ainda não sabemos. - disse McNash - Mas ao menos por hoje ele trabalha aqui para pagar pelo que comer. Roland, acho que um par de braços a mais podem ser úteis no seu serviço.

- Acho que sim, temos muito serviço hoje. - disse Roland, enquanto os demais voltavam aos seus afazeres, deixando Nicola com ele.

- Qual o seu nome, garoto?

Nicola responde e então Roland diz:

- Muito bem, Nicola… A primeira coisa que você vai nos ajudar a fazer é dar um banho na Eliah aqui. Use uma dessas vassouras que estão perto de você para esfregar a parte de trás dela. Não faça força demais: isso pode machucá-la e ela não gosta disso. Ao mesmo tempo, não faça corpo mole: a pele de um elefante é bem grossa, então para tirar a sujeira exige muita força. Acha que consegue dar conta?

- Acho que sim. Pelo menos, vou fazer o melhor. - disse Nicola

- Muito bem. Gostei da atitude. - disse Roland - Melhor tirar a camisa, pois vai se molhar bastante. - disse Roland

Nicola retirou a camisa e pegou uma das grandes e pesadas vassouras, molhando-a na água com sabão. Obviamente de início teve alguma dificuldade, mas logo estava ajudando a limpar Eliah.

Ele descobriu logo a melhor forma de passar a vassoura em Eliah para limpá-la sem machucá-la. Ela deu alguns urros de felicidade, o que de início assustou Nicola, mas conforme ele se acostumou, ficou feliz com a felicidade de Eliah, enquanto terminava de dar o seu banho, deixando-a bem limpa. Ele estava cansado e suado, mas havia um sorriso no rosto de Nicola que deixou Roland bastante feliz.

- Muito bom, garoto, acho que você leva jeito para a vida de circo. Agora vamos dar comida ao velho Khan, o leão. - disse Roland, indo para a jaula do Leão.

- Duas palavras ao lidar com animais: Respeito e Prudência. O Velho Khan é quase um gatinho doméstico, mas não é por isso que devemos baixar a guarda. - disse Roland, quando chegaram perto da jaula, enquanto Pyg, que havia saído um pouco mais cedo, trouxe um balde com várias peças de carne crua ainda sangrando, incluindo as vísceras. - Espero que não se importe em mexer com carne crua. - disse Roland.

Na realidade, Nicola nunca mexeu antes com carne crua, mas ele não queria parecer covarde ou molenga, ainda mais pensando que o circo podia ser sua melhor oportunidade agora que tinha fugido de casa.

- Tudo bem, acho que me aguento - disse Nicola, enquanto pegava partes da carne crua ainda em seu sangue no balde.

Foi algo demorado e sujo, além do fato que a jaula de Khan, ainda que enorme, era fedorenta devido aos excrementos do Leão em questão. Mas o Leão, ainda que rugisse, parecia gostar um tanto dos cuidados de Roland, a quem agora Nicola ajudava.

- Mas ele não sai da jaula? - perguntou Nicola, enquanto ainda colocava, soltando pela grade, alguns pedaços grandes de carne crua para Khan.

- Normalmente não deixamos ele sair de fora da jaula quando não há apresentações, devido à segurança, mas temos alguns locais onde podemos colocar ele em cercados maiores, de modo que ele possa esticar as pernas com segurança. - disse Roland - Não acho que ele goste muito, mas infelizmente não tem como deixar muito espaço: creia-me, adoraria ter alguns acres de terra onde pudesse deixar o Khan aqui andar à vontade.

- Entendo… - disse Nicola

Depois de Khan, Nicola passou a colocar a ração para os hipopótamos. Não era muito diferente do que dar a ração para os cavalos na fazenda, pensou Nicola, apesar dos baldes de ração serem enormes. Ao terminar, ele estava esbaforido, mas bastante feliz.

- Você é um bom garoto, Nicola. - disse Roland, enquanto lavavam as mãos e enxugavam o pior do suor - Espero que o senhor McNash aceite-o no circo. Precisamos de pessoas como você aqui. Bem, tá na hora da bóia. Espero que não se importe com um pouco de chili.

- Não senhor. - respondeu Nicola

- E acho que o Pyg vai arrumar um lugar para você no show. Nada muito grande, mas você parece ser um garotinho cheio de talentos. - respondeu Roland.


Nicola comeu um belo prato de chili con carne que o homem-forte Franck fez. Era como Mary dizia: a fome era um bom tempero para a comida. Depois de um copo de limonada fresquinha que Franck lhe arrumou como sobremesa, ele acompanhou Pyg para a tenda dos palhaços.

- Olha só, Nicola: a maioria dos shows do circo são shows de agilidade, graciosidade ou força, o que, não quero ser chato, você não aparenta ter. Então conversei com o Sr. McNash, e decidimos incluir você nos shows dos palhaços por agora, até vermos se você possui outros talentos úteis. A gente cobre a ação, sabe: enquanto estão organizando o picadeiro para o próximo número, nós fazemos nossas palhaçadas e chamamos a atenção do público. Vamos primeiros ver como você se sai em certas coisas para ver como podemos o encaixar no show.

Nicola assentiu, quando começou a fazer tudo o que Pyg falava:

- Dê uma corrida… Cambalhota… Salto Mortal… É, você deverá evitar isso por agora. - disse Pyg, enquanto oferecia uma mão para Nicola, que caiu de bunda no chão - Corra sem sair do lugar. Isso, muito bom. Agora, comece a imitar meus movimentos. - disse Pyg, começando a andar com passos bem largos e as mãos bem esticadas, depois dando pequenos pulinhos, fazendo gestos expansivos com as mãos, entre outras tantas coisas.

- Hummm… Nada mal para um Primeiro de Maio… - disse Pyg

- Primeiro de Maio?! Mas estamos ainda no início de Março. - disse Nicola

Pyg começou a rir, o que fez Nicola se envergonhar, enquanto Pyg o conduzia a algumas cadeiras velhas diante de algumas penteadeiras

- Primeiro de Maio é como chamamos no circo os novatos. Isso porque circos grandes como o Ringling Bros contratam os artistas por temporada, de maio a por volta de novembro. Então, todo mundo começa no circo no dia Primeiro de Maio. Nosso circo é menor, portanto precisamos trabalhar mais, só folgando entre Dezembro e o início de Fevereiro. - disse Pyg, fazendo Nicola sentar-se em uma banqueta diante de uma das penteadeiras.

- Ok… Agora já tenho ideia de como podemos trabalhar o nosso número com você. Vou explicar sua posição no número logo. Primeiro, deixe-me ver como vamos fazer sua maquiagem. - ele disse.

- Todo palhaço precisa de maquiagem? - disse Nicola, ao ver sobre a penteadeira uma série de pequenos potes coloridos.

- Sim… Mas essa maquiagem não é para esconder nosso rosto, mas, ao contrário, para enfatizar nossas expressões mais engraçadas. Lembre-se que nossa função, além de chamar a atenção, é fazer rir. Primeiro, quero que demonstre, com o rosto, os sentimentos que eu pedir para você.

E Pyg começou a falar os vários sentimentos, como felicidade, tristeza, raiva, surpresa, e também vários tipos de caras bem bobas. Nicola até que começou a gostar disso: era muito divertido.

- Ok. Acho que já temos a ideia de que tipo de maquiagem podemos fazer em você. Agora, observe como eu vou fazer porque, você continuando no circo, deverá fazer a maquiagem você mesmo. - disse Pyg, sentando-se no colo de Nicola, passando um pano no rosto dele para limpar o mesmo antes de começar a pintar o rosto de Nicola.


Não muito distante do circo, um grupo de garotos estava observando outras crianças voltarem da escola. Nenhuma criança chegava perto desse grupo: todos sabiam que essa era o pior grupo de garotos da cidade, e ninguém queria mexer com eles. E como eles ficavam perto de um cruzamento que dava acesso à escola para a maioria das crianças, elas davam a volta, tomando um caminho maior.

Isso realmente os divertia, embora eles estivessem com um olhar chateado, enquanto um deles fumava um cigarro, obviamente roubado de alguém:

- Estou chateado. - disse um garoto de cabelos de fogo e um olhar de doninha - Aquele pivete era muito divertido. A gente podia quebrar ele na pancada que ele nunca reclamava.

- Você diz isso porque você não morava com ele, Colin. - disse o garoto fumante, de cabelos morenos e olhos bem verdes - Não aguentava aquele bonzinho. Graças a Deus ele fugiu, apesar que ia ser legal ver meu pai acabar com ele.

- Mas, Josh, agora não temos mais diversão. Ele era o único que passava por aqui. - disse outro garoto, com cabelos negros e um olhar malvado.

- Gente, tive uma ideia… - disse Josh - Que tal se formos fazer bagunça no circo. Podemos fazer toda a arruaça que quisermos, que a cidade não vai fazer nada contra nós! Afinal de contas, são forasteiros!

- Parece uma boa ideia… Mas vai ser melhor ainda se fizermos isso durante a matinê. - disse o garoto de cabelos negros

- Isso, Aaron. - respondeu Josh - Acho que podemos fazer uma boa arruaça lá!

E eles continuaram conversando sobre seu plano malvado.

Obviamente todos eles tinham ido já ao circo, mas nunca tirando os centavos da entrada de seus bolsos: eles acabavam roubando os ingressos de outras crianças ou simplesmente entrando por debaixo da tenda quando podiam, já que todos eram fortes e ágeis o bastante para evitar os guardas do circo.

Então eles sabiam como planejar uma grande confusão.


- Ok… Esse é nosso número principal. Conseguiu entender, Nicola? - disse Pyg, enquanto os demais palhaços se aproximavam de Nicola, que sentou-se no anel que circundava o picadeiro.

Nicola estava com a roupa de marinheiro azul, calções da mesma cor e uma boina, uma peruca de lã rosa bebê debaixo da boina.

Coube-lhe o papel de um dos filhos que tinham que pular do “prédio em chamas” no número do incêndio, na verdade uma armação de madeira e cartolina, com celofane passando-se pelas chamas.

- Entendi… O meu papel é o de um menininho fofo, isso?

- Sim. Apesar que não é muito diferente de quem você é mesmo, né? - disse um dos palhaços maiores.

Todos riram, inclusive Nicola, o que destacou as bochechas em vermelho e os lábios pintados em branco e preto, esticando a “boca” pintada a um ponto muito cômico, o seu narizinho de botão pintado em um vermelho vibrante. Seu rosto pintado de palhaço o fazia parecer ainda mais um anjinho, já que ele ficava ainda mais com cara de bebê, como um garoto que só recentemente tinha deixado para trás as fraldas.

- Sim, entendi o meu papel. - disse Nicola, enquanto saia do picadeiro, usando o caminhar engraçado que Pyg lhe ensinara, o que, apesar de difícil de início, era a maneira mais adequada para andar com os sapatos quase 10 números maiores que o dele.

- Muito bem, vamos comer alguma coisa rápida e nos preparar para a matinê. - disse Pyg.


Mary abriu o Tarô diante de Frederick relativo a Nicola. Quando ela virou a penúltima das cartas, ela levou a mão aos lábios!

- Meu Deus! Por que? - ela disse, ao ver o desenho da Torre atingida por um Raio, várias pessoas caindo da mesma

- Mm… Isso não é nada bom. - disse Frederick, com sua típica fleuma

- Nada bom? Isso é terrível! Que tipo de Destino pode estar esperando esse menino? - disse Mary, assustada.

- Então, pode ser realmente que esse menino seja a pessoa que estamos procurando. O Clube já está sabendo? Talvez devemos abandonar o circo antes do tempo e voltarmos para Omaha, para a sede do Clube lá, para começarmos o treinamento do mesmo como Espírito do Século. - disse Frederick, ignorando de início o susto de Mary. Depois ele voltou-se para Mary e, vendo o horror estampando em seu rosto, disse reconfortante - Ainda não podemos dizer qual Destino espera esse menino. Ainda tem uma carta a ser aberta.

- Vejamos… - disse ela, ao abrir a última carta, ao centro da cruz que ela dispôs na mesa.

Ao virar a carta, ela viu o desenho da pessoa, cercada por uma mandala de folhas, como os Louros dados aos Campeões Olímpicos, aos cantos da carta um homem, uma águia, um leão e um touro.

- Ora só… - disse Frederick, aliviado e sorridente - Acho que estávamos nos preocupando excessivamente.

- O Mundo! - disse ela - Nunca tinha aberto O Mundo no futuro. Um símbolo de ascensão, para mais longe e acima da terra, alcançando o céu!

- Então, podemos nos descontrair um pouco… Se o Destino dele for ser um dos Espíritos do Século XX, então nada lhe ocorrerá. Senão… Infelizmente não poderemos fazer muita coisa por eles. - disse Frederick - De qualquer movo, vejamos como nosso pequeno palhacinho está lidando com sua nova vida.


A matinê começou muito bem, sendo que rapidamente Nicola conseguiu entender as entradas dos palhaços e seu papel neles. Todos os Palhaços olharam Nicola a cada saída depois de organizados os números e perceberam a evolução do mesmo.

- Puxa vida, Nicola! - disse Pyg, ao passarem pelas cortinas que dividiam os bastidores do picadeiro - Estou no circo a mais de 20 anos e nunca vi alguém aprender tão rápido a arte do palhaço. Estou realmente orgulhoso!

- Obrigado, senhor Pyg. - disse Nicola, esbaforido, cansado com os movimentos rápidos que tinha que fazer para as palhaçadas, no meio das roupas folgadas e usando sapatos desengonçados - Não imaginava que seria tão difícil.

- Que nada! - disse Pyg - Você está indo bem! Agora, vamos nos preparar para o nosso número principal. - ele disse, enquanto os funcionários do circo montavam o “prédio em chamas”, pouco depois da apresentação de Khan, o leão.


Dois dos garotos da turma pegaram Roland e o socaram até o desacordar, antes do mesmo poder trancar a jaula de Khan, o Leão, depois de a travar.

- Ok, o tratador está nocauteado. - disse Aaron. - E agora?

- Colin, fique na entrada da tenda. Assim que eu abrir a jaula, use o estilingue para o acertar no rosto. Isso vai deixar ele muito bravo. Saia do caminho, senão ele vai te atacar. A ideia é dar um bom susto em todo mundo quando o leão fugir para o picadeiro. Agora é o show dos palhaços, então ninguém vai dar, ao menos de início, muita atenção para lugar nenhum… Esse será a hora para nós fugirmos! - disse Josh

- Certo! Pode ir! - disse Colin

Josh abriu a jaula, e Colin atacou Khan.

Khan sentiu uma forte dor no focinho: nada capaz de o machucar, mas o suficiente para o enfurecer e fazer ele saltar da jaula e correr na direção de Colin, que percebeu, tarde demais, que não teria tempo de fugir.

- Corre, Colin! - disse Josh, meio preocupado, meio divertido, como se tudo não passasse de um rodeio.

Afinal, não era ele que estava fugindo de um leão furioso.


Nicola estava no alto do “prédio em chamas”, enquanto Pyg, embaixo, gritava como se ele fosse seu “filhinho”, cercado pelas “chamas” de celofane no alto da torre.

Tudo que Nicola precisava fazer era cara de choro e fingir-se assustado, até que os demais palhaços armassem a cama elástica para ele pular do “prédio” em segurança.

Foi quando ele começou a ouvir Stars and Stripes Forever.

Isso acionou na cabeça dele uma coisa que Pyg lhe disse enquanto ele perguntava sobre o circo, enquanto o mesmo o maquiava pela primeira vez.

- Se, a qualquer momento no show, você ouvir a música “Stars and Stripes Forever”, - disse Pyg, enquanto passava o dedo com a maquiagem sobre o rosto de Nicola - aconteça o que acontecer, mantenha a compostura. Essa é uma música de alerta para todos do circo de que algo realmente sério aconteceu. Normalmente, nessas horas nós temos que fazer nossas palhaçadas para manter o público calmo para que todos saiam do circo em segurança… Acho que só ouvi essa música uma vez, antes de um furacão daqueles vir na direção do circo. Essa é única situação em que a banda toca essa música. Não a toa a chamamos de “A Marcha do Desastre”

E ali estava a banda do circo tocando… “A Marcha do Desastre”

Nesse momento, ele manteve a calma e continuou seu show, enquanto boa parte do público era evacuado pelos funcionários do circo. Porém, ele estava um pouco assustado, já que o “prédio em chamas” era muito pequeno e razoavelmente alto, só tendo espaço para os palhaços que lá ficavam. E ele era o único no alto do “prédio” no momento.

Ele continuou no seu ato, mas ao mesmo tempo tentava de todas as formas observar qual era o motivo da Marcha do Desastre estar tocando.

Foi quando ele viu, na entrada do picadeiro, um garoto correndo de Khan, que parecia enfurecido. Ele viu os demais palhaços embaixo saindo correndo, e isso o deixou um pouco assustando, já que ele não tinha como descer.

Por outro lado, até onde ele sabia, leões não escalavam árvores. Portanto, no alto do “prédio em chamas”, no momento ele estava mais seguro que as pessoas no chão.


Alguns instantes antes…

Frederick foi quem viu os garotos tentando fugir depois de aprontarem. Ele utilizou um truque que aprendeu com Gaúcho, o antigo Espírito dos Pampas, pegando boleadeiras e jogando nos pés dos dois garotos.

- O que vocês estão fazendo? - disse Frederick para os dois garotos que estavam fugindo, enquanto Mary foi para próximo da entrada dos fundos do circo.

- Eles nocautearam Roland e deixaram o Khan furioso! - disse Mary, ainda nos seus trajes ciganos que usava na tenda de adivinhação, lendo cartas e o Tarô para as pessoas.

- Mary, corra para a banda e mande eles tocarem a Marcha do Desastre. Normalmente Khan não ataca as pessoas, mas não sabemos o que ele pode fazer furioso. Não podemos nos arriscar ou ao público! - disse Frederick, quando esta saiu correndo.

Foi quando ele respirou e deixou-se “entrar no personagem” de Don Cagliostro, para dominar as mentes pequenas desses valentões do interior, para eles explicarem seus planos.

Ele assumiu seu melhor rosto mentalista, aquele que ele reservava para os momentos mais sérios, fora das apresentações, uma carranca assustadora capaz de levar mentes ainda mais poderosas que essas pequenas mentes ao pesadelo e, olhando diretamente nos olhos dos valentões, em especial do garoto de olhos verdes, que ele não sabia ser o antigo irmão adotivo de Nicola, disse, no tom de voz baixo e poderoso que ele desenvolveu em um século como Don Cagliostro

- Agora… - ele disse, em um tom baixo e soturno, especialmente treinado, deixando o terror entrar na mente dos garotos, congelando suas reações e preparando-os para as sugestões mentalistas que ele iria aplicar - Vocês estão sob meu poder… Minha mente domina vocês. Vocês não possuem nenhuma vontade. Vão fazer tudo o que desejo, até que eu decida os libertar. E para começar, vocês irão me dizer exatamente o que vocês fizeram e porquê.


Nicola viu Khan correr pelo picadeiro, atrás de um dos garotos, quando esse garoto passou ao lado do “prédio em chamas”. Ele deve ter pensado que teria tempo de se esconder atrás do mesmo, mas Khan passou pelo mesmo, destruindo as placas de madeira como se fossem papel molhado, desequilibrando a torre.

Nicola ainda teve a presença de espírito de segurar-se a algumas das ripas que formavam o suporte, mas isso não foi o suficiente para impedir a queda, ainda que tenha o ajudado a não sofrer muitos danos na mesma.

Depois de alguns momentos de dor, Nicola fez algo que sempre fazia instintivamente: checar por fraturas ou ferimentos sérios. Percebeu que seu tornozelo estava torcido, mas nada demais. Começou a se levantar, imaginando se poderia fugir com o tornozelo torcido.

Foi quando viu um dos valentões da turma de seu irmão, parado como um cervo com uma lanterna na cara. O leão andando a passos lentos para o mesmo, pronto para dar o golpe final para enviar o valentão para O Andar de Baixo, como o mesmo deveria estar imaginando acontecer.

E, pela primeira vez em sua vida, ocorreu a Nicola uma escolha verdadeiramente de vida ou morte.

Ele poderia viver, mas ninguém mais poderia salvar o valentão, pois ele seria devorado antes que alguém chegasse para parar Khan.

Entretanto, se ele chamasse a atenção de Khan, certamente ele próprio teria a chance de morrer, mesmo protegendo a vida do valentão.

E, por algum motivo, Nicola não precisou pensar muito:

- Ei, Khan! Olhe aqui! - gritou Nicola, o valentão assustado ao reconhecer a voz do garoto que ele tanto espancou


Instantes antes…

Frederick entregou os garotos para o senhor McNash, enquanto Pyg tentava acordar Roland.

- Mas que droga! - gritou McNash com os meninos, definitivamente fora da compostura, arremessando a cartola de mestre de picadeiro ao chão - Onde vocês estavam com a cabeça de soltar uma droga de um leão furioso no picadeiro? Que tipo de diversão vocês acham que é essa?

- A gente queira apenas… - ia dizer Josh timidamente, quando um dos palhaços correu para eles.

- Senhor, temos problemas! Khan derrubou o “prédio em chamas” quando o outro garoto tentou se esconder atrás do mesmo. Nicola acabou caindo no chão e agora ele está tentando enfrentar Khan! - disse o palhaço.

McNash ficou apavorado: um garoto sendo devorado por um leão seria uma tragédia!!!

- Pyg, faça de tudo para reacordar Roland e o colocar de volta em condição de domar Khan! Não tem a menor chance de Nicola parar o Khan, ainda mais com ele furioso. Eu vou lá ver o que posso fazer. Fred, venha comigo. Você, - disse McNash ao palhaço - corra e chame a polícia. E vocês dois… - disse McNash para os valentões, enfurecido - Juro por tudo que há de mais sagrado no Céu e na Terra: se algo acontecer a esse circo… Se algum tragédia acontecer debaixo dessa lona e resultar no fim desse circo, podem ter certeza de que será nela que vocês serão enterrados!


A mente de Josh nunca foi muito usada, mas agora estava paralisada.

Primeiro, ao ver os olhos terríveis de Don Cagliostro, que abriram sua mente como se a tampa de seu crânio fosse uma tampinha de garrafa e aqueles olhos fossem o abridor. Ele sentiu-se drenado de sua vontade como nunca sentira…

E agora ouvira que Nicola estava tentando enfrentar aquele leão.

Em que mundo ele estava?

Em que mundo Nicola se envolvera?


Khan voltou-se para o garoto que gritou.

Na hora em que Nicola viu os olhos de Khan, ele sentiu muito medo, ao ver a fúria, justificada, em Khan.

Mas ao mesmo tempo, em sua cabeça, veio aquela pequena vozinha que sempre vinha em todos os momentos em que ele tinha medo, pavor, ou apreensão.

“Vai tudo dar certo no fim… Se não deu certo, é porque ainda não acabou.”

Ele procurou se acalmar, seu coração voltando ao ritmo normal. Então, ele se lembrou do que Roland disse:

“Duas palavras ao lidar com animais: Respeito e Prudência. O Velho Khan é quase um gatinho doméstico, mas não é por isso que devemos baixar a guarda.

Ele respirou fundo e olhou para Khan, procurando deixar claro que respeitava Khan.

- Khan, sou eu, Nicola. Acho que você lembra de mim, quando dei seu café hoje de manhã. Espero que tenha gostado. - ele disse, sem nem entender porque estava tentando falar com um leão.

Khan continuava a avançar lentamente, quando McNash e Frederick entraram no picadeiro, já vazio, exceto por Khan, Nicola e o valentão. A situação era muito surreal para eles, vendo o valentão parado de medo no chão, mas Khan voltado para Nicola, que parecia tranquilo, ou tão atemorizado que ele não conseguia demonstrar.

- Eu sei o que você tá passando: esses garotos são realmente maus. Eu sei disso, pois eles firam muitas maldades comigo. Mas você não precisa fazer algo ruim com eles. Tenho certeza que eles nunca mais vão fazer nada como isso. Ao menos não esse. Ele deve ter aprendido sua lição. - disse Nicola

Khan não parecia comovido, continuando a se mover na direção de Nicola, que começou a demonstrar um pouco do seu nervosismo.

- Olha só. Eu não quero que ninguém se machuque, certo? Nem ele, nem você e muito menos eu. Foi assustador ouvir a Marcha do Desastre no alto do “Prédio em Chamas”… E quando vi você correndo para machucar esse garoto, eu poderia ter pensado em deixar para lá e ele que se virasse, pois ele me fez muitas coisas ruins antes… Mas eu não quero que ele se fira, e tenho certeza que você também não quer ferir ninguém. - disse Nicola, um pouco apavorado, ao perceber que Khan estava próximo o bastante para que ele simplesmente levantasse sua pata e abrisse sua barriga como se descascasse uma laranja.

E foi nesse momento que Khan apenas deu uma soprada em seu rosto, e passou a língua no rosto de Nicola, tornando o rosto dele uma grande meleca de baba de leão e maquiagem de palhaço desfeita, permanecendo parado e com uma face um pouco mais tranquila. Nicola deu umas risadinhas, olhando para Khan com uma mistura de felicidade, susto e alívio.

Nesse momento Roland entrou, pegando uma coleira e passando pelo pescoço de Khan com cuidado, sem apelar ao chicote que ficava, mais a título de enfeite, no cinto de sua roupa de domador de animais:

- Ok, Khan… Calma, garoto. Acabou. Vamos voltar para sua casa. A gente vai dar um jeito nesses garotos. Esses garotos vão ter o que merecem. - disse Roland, recolhendo o leão de volta a seu lar no circo.

Mary correu para Nicola e o abraçou de maneira totalmente maternal, lembrando a Nicola o abraço de sua mãe.

- Nicola… Onde você estava com a cabeça? Enfrentar Khan? - disse Mary. - Você foi muito corajoso… Não sentiu medo ao encarar o Khan?

- Na verdade, - disse ele, agora tremendo que nem vara verde - tive muito medo sim! Mas nessas horas eu sempre penso que as coisas darão certo no final. Se não derem, é porque não acabou. - disse Nicola, surpreendendo os demais pela sabedoria além dos anos.

- Puxa vida, você teve a coragem de um Espírito do Otimismo. - disse Frederick

- Espírito do Otimismo? - disse Nicola, enquanto os valentões eram levados pelos policiais da cidade

- Digamos que você é especial, Nicola. Você nasceu em 1° de Janeiro e tem, agora em 1910, 10 anos, estou certo? - disse Frederick

- Sim… Isso mesmo: segundo o que dizem, nasci ainda quando tocavam as badaladas do Ano Novo na virada do século.

- Exato! Isso mesmo… Isso quer dizer que você tem algo especial… Mas vamos primeiro lavar esse seu rosto todo cheio de baba do Khan e aí conversaremos. - disse Frederick, retirando Nicola do picadeiro, em direção a uma nova vida.


Os dias seguintes foram muito confusos e puxados para Nicola:

Seu ex-irmão adotivo foi levado para a delegacia, e seu ex-pai adotivo foi lá. Nicola acabou falando sobre seu pai, mas trocou a possibilidade de colocar o pai na cadeia pela revisão de sua adoção, sendo que Frederick passou a ser seu pai adotivo. O ex-irmão adotivo foi colocado para ajudar no centro médico da cidade.

Frederick explicou para Nicola tudo o que pode sobre o conflito milenar entre os Espíritos e Sombras de cada Século. E Nicola entendeu seu papel como Espírito do Otimismo, de mostrar a todos exatamente o que lhe passou à cabeça ao enfrentar Khan: tudo dará certo no final, e se não deu, é porque não acabou.

O circo decidiu ir embora da cidade, antes que algum outro garoto mal tivesse alguma ideia perigosa. Na parada de saída, Nicola foi aplaudido por muitos, inclusive por alguns que, alguns dias antes, batiam nele por o acharem esquisito.

Em uma viagem rápida do circo para Omaha, Frederick o apresentou ao Clube do Século, mas deixou claro que ele seria o Mentor de Nicola, trabalhando para o Clube a partir do Circo. Este recebeu investimentos volumosos para incluir uma série de novos equipamentos, inclusive uma rara tenda a prova de fogo e um sistema telégrafo portátil.

E assim começou a história de Nicola Castrogiovanni, o Espírito do Otimismo.

Uma história que obviamente seria com final feliz.

Afinal de contas: se não deu certo, ainda não acabou.